segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Sobre a obra de Pablo de Carvalho...


Iniciei a leitura de Catracas Púpuras do escritor Pablo de Carvalho. Ele é um amigo, pelo qual tenho uma admiração incrível. Admiração esta que me permitiu – por exemplo – a sinceridade extrema de dizer que não gostei de um de seus livros, o Eunuco (acho que este é o título). Quem é meu amigo, tem conviver com minhas opiniões sinceras. Caso não queira, a porta é a serventia da casa.

Mas, para minha felicidade, pude não me paralisar nas primeiras impressões e seguir lendo o próximo: o maravilhoso e surpreendente Iulana. Um livro de um lirismo nas linhas e nas entrelinhas. Iulana foi uma obra que reverenciei em uma crítica que escrevi em um dos jornais que trabalhei.

Agora, Pablo de Carvalho lança Catracas Púrpuras. Abri o livro pensando: “esse cara não vai conseguir superar o que me fez sentir ao ler Iulana”. Eis que ele consegue, logo nos dois primeiros capítulos. Eu senti a necessidade de conversar com Carvalho – como fizemos certa vez, tomando algumas cervejas na varanda do apartamento dele – sobre a construção de cada frase, a concepção de algumas anáforas maravilhosas ali presente, a inserção do lirismo no áspero ato de um assassinato, de um estupro (como descreve o livro no segundo capítulo), sem tirar a nudez e a crueldade da cena.

Cito trecho como exemplo: “o pai ferido espalha pela mesa do delegado de polícia a maquete da tumba, mata a filha novamente, chora sangue puríssimo, quase pastoso, a esbravejar”. Dentro do contexto se faz forte, mas sem exageros. 

Aquele lado da provocação do choque gratuito que me fez rejeitar Eunuco, não surge em Catracas Púrpuras. Aqui se vê o amadurecimento de um escritor cujas entrelinhas transpira Dostoievski de um Crime e Castigo, um Nietzsche indagando – de forma lírica – de quanta verdade é capaz de suportar o espírito? E pra quê tanta firula da minha parte. Bem, para dizer no final das contas o que depois de duas cervejas se resumiria: “O LIVRO É BOM PRA CARALHO!!!!”.

Chamou-me atenção também o casamento perfeito entre os títulos dos capítulos e seus conteúdos. Ainda não terminei de ler, mas até o presente momento vem casando de forma assombrosa, deixando ali visível o escritor que não é preguiçoso, que se debruça sobre a sua matéria-prima sempre buscando o melhor de si. A função poética transcorrendo sem perder a referência de um realismo, seco, duro, objetivo que me atrai muito na literatura. 

No capítulo Os Cavalos, outra belíssima construção poética: “o sol estreita os ombros para entrar nos becos dos vitrais”. Fotográfico.  O livro ainda traz uma intertextualidade que vão de clássicos da literatura ao Evangelho associado ao ceticismo.

Falar sobre o enredo do livro? Jamais. É uma obra que indico. Surpreendam-se com ela. Catracas Púrpuras merece o debruçar do leitor. É Literatura, do entretenimento à arte. Bom encontrar obras assim em tempos em que vampiros e lobisomens que ficam o dia todo em frente à penteadeira. 

Um comentário:

  1. Grande Luis!

    Cara, sinto-me muitíssimo honrado por suas palavras; e muito emocionado. Sei que têm a mesma profundidade, a mesma honestidade e o mesmo espírito construtivo daquelas que não gostaram de O Eunuco - portanto, valem, também, ouro. A varanda e a cervejinha estão esperando; você e sua família serão sempre muito bem-vindos.

    Forte abraço,

    Pablo.

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