Iniciei a leitura de Catracas Púpuras do escritor
Pablo de Carvalho. Ele é um amigo, pelo qual tenho uma admiração incrível.
Admiração esta que me permitiu – por exemplo – a sinceridade extrema de dizer
que não gostei de um de seus livros, o Eunuco (acho que este é o título). Quem
é meu amigo, tem conviver com minhas opiniões sinceras. Caso não queira, a
porta é a serventia da casa.
Mas, para minha felicidade, pude não me paralisar nas
primeiras impressões e seguir lendo o próximo: o maravilhoso e surpreendente
Iulana. Um livro de um lirismo nas linhas e nas entrelinhas. Iulana foi uma
obra que reverenciei em uma crítica que escrevi em um dos jornais que
trabalhei.
Agora, Pablo de Carvalho lança Catracas Púrpuras. Abri
o livro pensando: “esse cara não vai conseguir superar o que me fez sentir ao
ler Iulana”. Eis que ele consegue, logo nos dois primeiros capítulos. Eu senti
a necessidade de conversar com Carvalho – como fizemos certa vez, tomando
algumas cervejas na varanda do apartamento dele – sobre a construção de cada
frase, a concepção de algumas anáforas maravilhosas ali presente, a inserção do
lirismo no áspero ato de um assassinato, de um estupro (como descreve o livro
no segundo capítulo), sem tirar a nudez e a crueldade da cena.
Cito trecho como exemplo: “o pai ferido espalha pela
mesa do delegado de polícia a maquete da tumba, mata a filha novamente, chora
sangue puríssimo, quase pastoso, a esbravejar”. Dentro do contexto se faz
forte, mas sem exageros.
Aquele lado da provocação do choque gratuito que me
fez rejeitar Eunuco, não surge em Catracas Púrpuras. Aqui se vê o
amadurecimento de um escritor cujas entrelinhas transpira Dostoievski de um
Crime e Castigo, um Nietzsche indagando – de forma lírica – de quanta verdade é
capaz de suportar o espírito? E pra quê tanta firula da minha parte. Bem, para
dizer no final das contas o que depois de duas cervejas se resumiria: “O LIVRO
É BOM PRA CARALHO!!!!”.
Chamou-me atenção também o casamento perfeito entre os
títulos dos capítulos e seus conteúdos. Ainda não terminei de ler, mas até o
presente momento vem casando de forma assombrosa, deixando ali visível o
escritor que não é preguiçoso, que se debruça sobre a sua matéria-prima sempre
buscando o melhor de si. A função poética transcorrendo sem perder a referência
de um realismo, seco, duro, objetivo que me atrai muito na literatura.
No capítulo Os Cavalos, outra belíssima construção
poética: “o sol estreita os ombros para entrar nos becos dos vitrais”.
Fotográfico. O livro ainda traz uma
intertextualidade que vão de clássicos da literatura ao Evangelho associado ao
ceticismo.
Falar sobre o enredo do livro? Jamais. É uma obra que
indico. Surpreendam-se com ela. Catracas Púrpuras merece o debruçar do leitor.
É Literatura, do entretenimento à arte. Bom encontrar obras assim em tempos em
que vampiros e lobisomens que ficam o dia todo em frente à penteadeira.
Grande Luis!
ResponderExcluirCara, sinto-me muitíssimo honrado por suas palavras; e muito emocionado. Sei que têm a mesma profundidade, a mesma honestidade e o mesmo espírito construtivo daquelas que não gostaram de O Eunuco - portanto, valem, também, ouro. A varanda e a cervejinha estão esperando; você e sua família serão sempre muito bem-vindos.
Forte abraço,
Pablo.