Explosão e salvação
“Quando o mundo está a um passo
de explodir/O que ainda te salva?”. Dois pequenos versos pobres rabiscados em
um guardanapo entre um café e outro em algum local da cidade. Não se encaixam
em qualquer tipo de texto que tenha rascunhado ultimamente, mas refletem a
pressa e pressão com que as informações se sucedem ultimamente, eliminando o
foco do que de fato interessa; roubando-nos o foco para o que de fato parece se
construir: edifício alto, pilares fracos!
Eis a metáfora que tenho usado
muito no cotidiano: “edifício alto, pilares fracos”. Nosso consumo frenético de
informações, a busca por saber tudo que está a nossa volta: da última tragédia
ao mico da mais nova celebridade; do mais novo refrão à última bandeira para
salvar o mundo...e dá para carregar tudo em um pen-drive. Muita informação, mas
o que de fato nos interessa? A eterna superficialidade que nos remete ao mais
do mesmo todos os dias.
Como se não bastasse, tudo tem
que ser entretenimento. Na sala de aula, conhecimento com entretenimento; na
filosofia, o filósofo high-tech celebridade para dar entrevista sem poder
aprofundar demais, mas cheio de frases de efeito; nos jornais, informação com
todo tipo de atrativo e quanto menos letra melhor; na literatura, o culto pelo
que é ralo e a fuga do denso...por aí vai. Dá impressão de que os assuntos e as
reflexões andam descartáveis. Tomara que seja só a impressão de um dinossauro
de gravata que frequenta cafeterias de uma cidade, com certo saudosismo de
discutir ideias, de falar menos sobre pessoas. Vai ver é isto.
É isso...
Quando o mundo está prestes a
explodir
O que ainda te salva?
Versos de um poema que não cabem
nas letras que andam por aí
O que ainda te salva?
Um café no fim da tarde com livro
ainda a resistir
O tempo dos descartáveis...
Quando o mundo está prestes a
explodir
O que ainda te salva?
Amores em grande escala que
estatísticas não podem medir
O que ainda te salva?
Um vinho no fim da noite com
sonhos ainda a resistir
A ausência de romantismos e
palavras...
Quando o mundo está prestes a
explodir
O que ainda te salva?
Uma ligação inesperada de quem te
faz verdadeiramente sorrir
Nesta selva de tantas gargalhadas
O desejo de dias melhores que
ainda estarão por vir
Entre edifícios altos e pilares
fracos que constroem por aí
O que ainda te salva?
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