sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os 11 mais...

Sempre tive um pé atrás com as “listas dos 10, 20, 30 mais” e suas variantes. As mais bem elaboradas listas dos “melhores livros” e afins causam-me a seguinte impressão: concordo com as obras listadas, mas faltaram tantas outras...creio que deva até ser um sentimento bastante comum.

Porém, em um diálogo com minha esposa sobre estas relações – no momento em que ela me apresentava uma destas e indagava sobre algumas obras – Vanessa Alencar me fez a proposta: por que você não monta a sua lista? No momento eu pensei: serei eu mesmo a cometer injustiça com os grandes livros que vou deixar de fora? Logo em seguida fiquei pensando em critérios para a composição de uma lista.

O primeiro critério: quantas obras citar? Bem, escolhi 11 livros. Por qual motivo o número 11? Uma forma subversiva de lidar com o comum “Os 10 mais...”. Fiz questão de ser bem pessoal na escolha dos títulos. Por isto, muitos clássicos que acho essenciais – apesar deste adjetivo posto – não estarão aqui. Por fim, não listo de maneira ordinal: primeiro-melhor, segundo-melhor...e por aí vai. Para mim são obras igualmente importantes. Ah, e são apenas da literatura.

Mas a proposta da lista é muito interessante. Por isto aceitei. Todavia, caro leitor, você tem todo o direito e deve discordar. O objetivo aqui é apenas falar de alguns dos inúmeros maravilhosos livros da humanidade.

1 – O Lobo da Estepe de Herman Hesse: um romance ímpar em minha opinião que aborda as batalhas internas e as crises existenciais de todo ser humano ao se defrontar com a chamada “idade da razão”, ou “idade do lobo”. O confronto entre o lado homem e o lado lobo na obra de Hesse mostra o quanto vamos além da barreira do maniqueísmo.  Sem contar com a belíssima reflexão sobre o suicídio na melhor parte da obra: O Tratado do Lobo da Estepe.

2 – Fahrenheit 451 de Ray Bradbury: é simplesmente o clássico contra o totalitarismo e a intolerância. De maneira precisa, Bradbury mostra os métodos dos intolerantes para fazer prevalecer uma realidade favorável ao comando de poucos e se livrando do questionamento de muitos. Um mundo onde a ignorância esconde o óbvio e o perigo disto é revelado em Farenheit. Um clássico para se colocar ao lado de Admirável Mundo Novo de Huxley e 1984 e Revolução dos Bichos, ambos de George Orwell.

3 – A Revolta de Atlas de Ayn Rand: um livro extremamente influente na formação política de qualquer cidadão. A leitura de Ayn Rand vale por uma biblioteca inteira de ciências políticas. Além disto, o livro é uma aula de empreendedorismo e necessária para quem quer pensar mais sobre o papel de um governo, sem contar com a abordagem inteligente sobre corrupção, política, relações sociais, enfim...uma obra essencial em uma biblioteca. Sobre carregar o mundo nas costas...

4 – Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis: a genialidade de um mestre em seu melhor momento. O defunto-autor de Machado de Assis é um homem despido de qualquer convenção social para discorrer sobre tudo do auge da fina ironia. Uma autopsia do humano. Machado de Assis deveria ser leitura obrigatória dos cursos de psicanálise.

5 – O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde: os aparentes paradoxos contidos nos aforismos de Oscar Wilde são verdadeiros tapas na cara da existência. Diante de um espelho para enxergar a humanidade, eis o que provoca o quadro de Dorian Gray. Sem contar a sinergia entre os três principais personagens da obra formando – ao fim de tudo – uma única personalidade. A estética da obra e a beleza poética também merecem ser destacadas.

6 – Ulysses de James Joyce: demorei muito para chegar ao fim desse livro. Pela sua imensa quantidade de páginas e por ter iniciado em um período conturbado. Mas foi uma viagem que valeu muito a pena e indico. Aqui, a superação dos desafios para retornar ao que realmente se importa. A épica travessia moderna de Leopold Bloom revela muito do que é o “homem moderno”. Joyce também brinca com os estilos da Literatura.

7 – O Ano da Morte de Ricardo Reis de José Saramago:  o personagem principal é o famoso heterônimo do escritor Fernando Pessoa. O livro é uma homenagem aos heróis anônimos, como já colocou a estudiosa Ana Paula Arnaut. Mas é justamente isto. Traz uma discussão sobre o fascismo de pano de fundo. Para mim – que sou um fã de Saramago – estamos diante de sua melhor obra. Claro que poderia entrar nesta lista qualquer outro livro de sua autoria, até mesmo em homenagem a estética singular usada pelo escritor.

8 – O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa: – uma viagem melancólica, depressiva, mas construtiva. Para mim, a obra foi – por diversas vezes – um reencontro com a alma (sem ser no sentido religioso). Fernando Pessoa ao se mostrar nesta obra de uma forma ímpar, pulando de um trapézio sem rede de proteção, fala muito sobre o leitor ao falar de si mesmo. Eis minha sensação.

9 – A Revolução dos Bichos de George Orwell: a melhor fábula da humanidade contra o pensamento totalitário. Isto já diz tudo. Acho o livro 1984 melhor em densidade, sobretudo pelo conceito de criação de uma nova língua para inverter a lógica dos fatos. Mas, Revolução dos Bichos – pela proposta – merece integrar qualquer lista de melhores obras da humanidade.

10 – Crime e Castigo de Dostoievsky: um livro que me deixou sem palavras (com perdão do trocadilho). Culpa, perdão, redenção, ambição...expostos da melhor forma pela literatura. Não é por acaso que li uma reportagem – dia desses – de um juiz que resolveu estimular a leitura de reeducandos. Começou por esta obra de Dostoievsky. Um livro denso, mas apaixonei-me de tal forma pela obra que li em dois dias. Não consegui largar. Depois reli algumas vezes. Sempre surgiu como um livro novo em minhas mãos.

11 – A Peste de Albert Camus: o livro do rompimento decisivo com o existencialismo proposto por Jean Paul Sartre (Idade da Razão poderia estar nesta lista, acreditem). Camus coloca a revolta individual e libertária em primeiro plano,  distanciando – desta forma – o existencialismo das correntes político-ideológicas derivadas do marxismo.  Como diz o próprio Camus: “não podemos ficar alheios ou distraídos”. Esta obra do final da década de 1940 fala muito sobre o sentimento de solidariedade e da condição humana.


Finalizo a lista com certeza de inúmeros injustiças cometidas com tantas obras maravilhosas da humanidade. Mas, é bem pessoal. Talvez se tiver que fazer esta lista novamente em alguns anos ela mude...quem sabe...risos

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