quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Escol(H)as, escol(H)as...


Qualquer escolha no processo do vestibular deve ser feita em pouco tempo e de forma superficial: Onde se deve colocar o X da questão (literalmente)? “O que eu quero ser quando crescer?” pode até se transformar em outra pergunta muito mais séria – e não identificada em testes vocacionais – que é: “Quantas possibilidades eu estou matando em mim ao assinar este formulário”.

Caramba! Quem é que precisa mesmo destes ritos de passagem? Reduzir o conhecimento universal a questões simples, direcionadas que vão te induzir ao erro. A pressão de tudo saber. Uma panela de pressão sem contador de minutos para tirar a tampa. Não há como escapar sem sequelas. No entanto, a vida corrige os erros. Graças a Deus.

No meu caso, fiz duas faculdades – nenhuma delas foi Filosofia (a que de fato queria, mas cedi aos compromissos mercadológicos e futurísticos) – e a vida corrigiu. Deu-me a possibilidade do jornalismo – que encaro às vezes como ofício/arte e às vezes como filosofia – e me jogou, quando menos esperava, dentro da sala de aula com a disciplina de filosofia e literatura.

Corrigi-me como o cara que faz Direito e vira músico, ou como o cara que faz música e vira empresário, ou como o cara que faz jornalismo e Letras e vira jornalista e professor de filosofia nas horas vagas. É difícil fazer jornalismo e virar apenas jornalista no sentido tecnocrata do artesão da palavra (quem está na profissão deve entender bem isto).

Mas, voltando ao vestibular. No meu primeiro dia de prova, eu fiz parte da galera confronta a diarreia. Minha cabeça lotada de conhecimento se misturava com o desprezo que eu tinha pelo ritual que citei no início. Metade do que aprendi me fugiu a memória. O que é mesmo um anel de benzeno? Às vezes – com um pouco de esforço – lembro de Mendel e do sexo das ervilhas.

Ainda tenho em meus ouvidos os conselhos de meu pai e a lembrança de minha mãe rezando o terço para que eu fosse alguém. Ela achava que Deus cumpriu a parte dele. Eu, já nem sei. A vida continua com suas questões de múltipla escolhas e me dando apenas um “X” para colocar em algum lugar, enquanto é necessário explanar mais as coisas. O vestibular não tem a alternativa “talvez” e isto faz dele extremamente falho. Todo reducionismo é “nosense” demais. Além disto, o principal sempre fica fora de qualquer resumo.

O que lembro do meu vestibular: a proximidade da virada do milênio estampando os jornais e eu pensando: “grande porcaria, o mundo vai ser o mesmo”. Infelizmente, neste quesito acho que marquei a alternativa correta. Queria voltar no passado e mudar o gabarito. Eu me sentia o jogador mais “perna-de-pau” do mundo sendo selecionado para bater o pênalti decisivo em final de copa do mundo. A torcida – neste caso – também era extremamente silenciosa. Como se fez barulho depois...

Todas as minhas habilidades se resumiram a um “X” que até hoje tenho dúvidas se foi certeiro, mas que trouxe – não por ele, mas por diversas circunstâncias de querer ficar na contramão – o melhor e o pior de mim.

Quando os estudantes me perguntam como enfrentar este probleminha, transformado em monstro de 547 cabeças, só me resta dizer: “Enfrentai com naturalidade, desprezai o ritual, estudai e caso não consiga, a vida volta a sua programação normal. Para com esta coisa de só ter uma chance só, um único chute. Enfim. Ás vezes, a bola na trave, ensina mais que o gol”. Pensava nisso, nos vestibulares que perdi. E não foram poucos!

Mas, se existem coisas a serem evitadas durante o clima pré-vestibular, eis algumas: não mate aulas, por mais que os palhaços sejam sarcásticos e grosseiros; não tente suicídio e faça yoga para tentar não ter diarréia; lembre-se que litros de café durante a madrugada não ajudam em nada; todo fim é um novo início (é essencial crer nisto) e que a “lei da selva” não foi ideia sua, por isto sem estresse e sem necessidade de querer ser o “leão”. No vestibular, o último e o primeiro entram de mãos dadas em uma “nova fase” que nem mesmo sabe ao certo o que quer dizer...

Ah, não tente acabar a prova logo. Aprenda a respirar fundo. Durante o vestibular há uma lição que não está nos cursinhos: “Na hora H – a depender de como você se educa para se vê – há mais coisas dentro de você do que pode supor toda a vã sabedoria de macetes e lembretinhos colados na porta da geladeira”. Leia bastante durante todo o processo. Ler é melhor que estudar. Por fim, desrespeite as referências bibliográficas. Não sempre, mas dentro do bom senso. No mais, diante de uma possível derrota, ainda nos resta “todo o tempo do mundo”...enquanto houver tempo e nunca se sabe até quando há. 

Um comentário:

  1. Luis Vilar, tenho mais ânimo em continuar conhecendo o Blog Conversas de Quinta a cada texto que leio. Meus sinceros parabéns!

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