sábado, 15 de dezembro de 2012

Dos debates e do convencimento


Christopher Hitchens tem um livro chamado Cartas a um Jovem Contestador. Acho um belo livro e costumo indicar para estudantes de jornalismo que me pedem dicas de leitura.  Não é um livro técnico, mas é MUITO BOM. 

Não entro no mérito da crença política, nem da religiosa, de Hitchens. Por sinal, há pontos em que discordo dele, mesmo comungando do ceticismo. Mas, reconheço que é uma boa leitura. Não só a obra citada, mas outros livros também valem a pena. Conheçam o autor ; quem não conhecer. 

Faz parte do processo do debate - no jornalismo - trabalhar com argumentações. E bons textos, ajudam ao processo da formação da lógica na exposição das ideias. É como ler John Lennox e Richard Dawkins. São autores que vivem debatendo. Um rebate as ideias do outro. 

Dawkins com o ateísmo presente em muitas obras. Lennox com a defesa do cristianismo. E aí, apesar de não ser cristão, reconheço que Lennox tem uma obra maravilhosa. Pelo que lembro chama-se Por que a Ciência Não Conseguiu Enterrar Deus. Vai para além do discurso de Deus das Lacunas e consegue rebater Dawkins - com quem simpatizo mais - com bastante elegância e argumentos sólidos. 

O que mostra que é possível reconhecer a genialidade do oponente, mesmo questionando este. Faz parte. Quem for procurar no Youtube, há um debate legal entre Dawkins e Lennox. Às vezes até revejo. Este tipo de debate maduro existe também em Hitchens, que usa da ironia, mas não como objetivo de humilhar o outro lado, mas sim de dar boa cores à discussão. Uma função poética ao lado persuasivo que - infelizmente! - ainda há muita gente que finge não enxergar isto. 

Os politicamente corretos enxergam aqui a agressividade, quando ela não há. Como digo: um dos sinais da desonestidade intelectual é ler o que não está escrito para se combater o que se gostaria que estivesse escrito. Desonestidade pura. O argumento ausente pode ser constatado pela adjetivação pura e a inconsistência, ao invés da sutil ironia, ou até mesmo da relação lógica que alguns autores trazem. 

Cito também - e aí, bem maior do que todos já citados! - o poder de argumentação encontrado nas falas de Olavo de Carvalho. Este - brasileiro! - um grande debatedor, que não se esconde, que não foge. Sim, tenho divergências com ele. Mas, reconheço sua grandeza. Por vezes, fui dormir convencido de coisas que ele falava, até pesquisar, estudar, beber nas fontes que ele cita, buscar, buscar, buscar para conseguir rebater. Por vezes, fui convencido. 

Afinal, posso - e me dou o direito - mudar de opinião se o argumento for bom e mostrar a clareza de sua verdade. Não faço o relativismo proselitista. É nessas entrelinhas que mora o demônio (no sentido conotativo, evidentemente). Quando me abro ao bom debate, abro espaço também para a possibilidade de sair uma outra pessoa de dentro dele, mais rica do que quando o entrei e por esta razão, valorizo tanto o processo da discussão sadia. Do bom combate, como costumo dizer. 

Voltando a Hitchens, lembro como me emocionei, quando ele falava do debate de ideias em seu último livro, quando fala da luta travada com o câncer. Morreu coerente aos seus princípios. Admirável. Mesma admiração que se pode encontrar - por exemplo - em Oscar Niemeyer, mesmo eu discordando completamente de sua linha ideológica. O que não ocorre com Hitchens. 

Crescer por meio do diálogo faz parte da vida. Agora, neste processo é preciso identificar os falsos profetas e a venda dos mitos. Estes devem ser denunciados, revelados, desnudados sempre que possível. Querem a confusão mental, o argumento insípido, vazio, o mar turvo, querem jogar alhos com bugalhos para arrebatar os inocentes em nome de causas que na verdade são as máscaras de seus interesses mesquinhos. 

Não buscam a si mesmos por um instante sequer no processo dos questionamentos. Partem da cegueira. Do cavaleiro inexistente dito lá por Ítalo Calvino. Sei que este sempre estarão prontos para enfiarem espadas pelas costas, mas não são do meu time. Sempre andei de cabeça erguida e pronto para a troca de ideias. Se convencido for, cresço com a outra opinião, com a outra visão posta, com a humildade que sempre busquei ter no processo que sempre encarei como um aprendizado e não como um doutrinamento. 

Um comentário:

  1. Cara, por falta de tempo, há muito não lia seu blog. Cada vez melhor. Esse texto, então, é perfeito.

    Abraço,

    Pablo.

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