terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Vida de Chato...


A gente vai se acostumando a uma ilógica subliminar que nos sequestra o sentido (se é que sentido há!). Rabisquei a frase em um guardanapo, numa cafeteria do shopping-center enquanto conversava com um amigo, esperando minha esposa e minha filha retornarem das famosas compras de natal.

Shopping lotado. Promoções a rodo. Todo tipo de facilidade. Vendas à prazo. Do lado das lojas e também do nosso lado. Explico: pagamos caro para levar porrada. Entrei em uma das lojas em que se vendia a capinha para iPhone com propaganda da Coca-cola. Ok, qual é a lógica? Indaguei ao vendendor: “eu tenho que pagar para virar outdoor do que é produto alheio?”. Ele me responde: “você não entende, senhor...!”.

Pode não explicar. É, eu não entendo!

Em alguns poucos segundos na mesma loja assisti a uma discussão entre o vendendor e uma cliente que queria devolver a capinha que tinha comprado um dia antes. O motivo: ela reclamava do produto, pois a capa em questão não tinha uma abertura circular que permitisse aparecer a maçã mordida da Apple. “Ela fica escondida, daí ninguém sabe que eu estou com o iPhone”. Eu achava que a função do aparelho era outra quando comprei o meu.

Na cafeteria, contabilizei 200 pessoas em cinco minutos: todas em padrão igual...cabelo, roupa, peso, tendências...! Saio em busca de um DVD para assistir ao chegar em casa. Eu: “tem o filme tal?”. O vendendor: “tem senhor, mas só vende a trilogia”. Eu: “E se eu não quiser os outros dois?”. O vendendor: “mas, é uma promoção senhor”. Promoção para quem? Para mim?! O vendendor explica: “levar os três é mais caro que levar um, mas se o senhor divide, o filme fica mais barato no valor unitário...”. Ah, tá! 

Incrível. Saindo do shopping recebo uma ligação da minha operadora celular, me presenteando com a “excelente oportunidade exclusiva” - TODOS DEVEM TER RECEBIDO LIGAÇÃO SEMELHANTE - de entrar na fila de espera para comprar o iPhone 5 que custa “senhor, R$ 2.659” (acho que era isso). “Olha só senhor, não é incrível?”. É para eu responder “sim, é incrível. Muito grato”! É isso?! 

Em casa folheio o novo livro do Sandes. Ele relata casos em que o tempo virou dinheiro mesmo. Ele relata uma empresa que cobra mais caro dos clientes para que eles se livrem das filas. Os que não podem pagar um pouco mais caro, que na fila continuem. Em um local, citado também por Sandes, guardar lugar na fila virou profissão especializada. Daqui a pouco os caras tem sindicato e ganham preferências normatizadas para se diferenciarem do simples cidadão que só precisa do lugar na fila. 

Lembrei do livro no dia seguinte. O motivo? Fui colocar o carro para lavar. O cara me explica assim:”senhor, vai demorar cerca de cinco horas por conta da fila. Mas, se o senhor quiser lavar com a cera X que custa apenas R$ X a mais, podemos passar o senhor na frente, já que é um serviço especializado para clientes Vips”. Hã?! Que?! Eu sou o único maluco que esperei cinco horas honestamente. Deixei o carro e fui fazer outras coisas. Chego depois do tempo combinado. Meu carro não estava pronto. Claro, como pude ser tão otário. Tinha uma galera disposta a usar a CERA X. 

E na sala de aula: “professor, tem uma maneira mais fácil de aprender isto sem precisar estudar?”. Problemas com o “no pain, no gain”. Só o “gain” please, poderiam dizer. Corte superficial para não sentir dor. E assim a gente segue sem nos permitir estranhar o estranho. Sem questionar o ilógico. 

Liga-me alguém de uma revista X pedindo que escrevesse um artigo. Perguntei quanto iriam pagar pelo texto. Os caras se sentiram ofendidos, pois era uma oportunidade para mim! Para mim?! Imaginei na hora: alguém ligando para um cirurgião pedindo que ele fizesse uma cirurgia e se sentisse ofendido com o preço, afinal é uma oportunidade única para o médico. Eu escolhi escrever por profissão, saca?! Como o cirurgião escolheu o ramo dele. Qual a diferença?! Pela lógica do mundo minha atividade não é tão nobre.

Lembro-me do dia em que uma moça de uma magazine perguntou - antes mesmo de eu entrar na loja em questão - se que queria “fazer um cartão de crédito”. Eu estava de bom humor. Respondi que sim e me ofereci a lista imensa de perguntas que eles fazem. Até a moça perguntar: “Qual profissão, senhor?”. Eu: “Poeta”. A cara de espanto da mulher foi indiscritível. Ela fechou o  bloquinho e disse que não passaria na análise de crédito. É poesia tá sem crédito mesmo...hehehehe!

Por fim, a resposta que sempre dou a pergunta “senhor, aceita o troco em balinhas?”. Eu: “desde que amanhã eu possa voltar aqui e pagar o que eu pedir com balinhas também?”. Há uma ilógica nestes episódios, ou o chato sou eu mesmo?! 

3 comentários:

  1. Grande amigo Lee. Para desanuviar, não ficar só no campo da indigesta política

    ResponderExcluir
  2. Caríssimo LUIS VILAR,
    ser 'de ESQUERDA' em universidade de 1a linha já foi MODA, quase obrigação.

    TEMPOS atrás, em ENTREVISTA bem humorada nos idos de 2007, o cineasta carioca Nelson Pereira dos Santos afirmou
    … naquele tempo [anos 1950, 1960] , ser JOVEM e não ser comunista é o mesmo que, hoje, ser jovem e não fumar maconha: corre-se o risco de ser DISCRIMINADO. Os pais não gostavam, é claro. …

    e ainda HOJE, continua ele
    … A situação social BRASILEIRA é muito parecida com o pós-guerra EUROPEU: famílias destruídas, crianças sem lar, meninos de rua, bandidos, violência … [www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142007000100026&script=sci_arttext] …

    Se me permite, ARREMATARIA: … noutras palavras: o comunismo virou fumaça!

    ResponderExcluir