Não lembro – deve
fazer muito tempo – de um período em que me dediquei tanto a
estudos quanto nos meses de outubro e novembro deste ano. Saí em
busca de respostas, voltei com mais dúvidas na bagagem. Entre as
indagações, uma que ainda ecoa no silêncio: diante de tantos
pontos de vista a serem esmiuçados, questionados, indagados, como é
que tem gente com coragem o suficiente para arrotar tanta tristeza?
São imaturos o suficiente para saberem de tudo! Aliás, possuem o
ponto de vista sempre pronto para passar a vista em poucos pontos.
De preferência, aqueles
pontos de vistas que sustentam – de uma forma
pseudo-racional-argumentativa – o ódio passional que carregam e
que os movem em direção sabe-se lá ao que...
O que me surpreende na
atividade do estudo disciplinado – eu acredito que disciplina é
liberdade! Acredito mesmo! - são os links que vão se abrindo na
navegação (acho que posso usar esta palavra!) por entre páginas de
livros. A leitura de Robert Gellately, por exemplo, me levou a
releitura de George Orwell, que me levou a um estudo sobre os
estoicos, que em seguida me levou ao mundo de Richard Dawkins, não
pelo ateísmo, mas pela compreensão do homem do ponto de vista
biológico.
Abre parênteses. Aliás,
retirando a cruzada passional de Dawkins, há muito – muito mesmo!
- para se aproveitar em seus escritos. Deus, um Delírio talvez seja
o menor de seus livros. Fecha parênteses.
Por falar em links,
lembro que a leitura de Dawkins me levou a honestíssimos pensadores
cristãos – links e mais links! - como William Paley, Jonh Lennox e
Karen Amstrong. Dois lados de uma mesma discussão, porém longe de
serem apenas dois pontos de vista sobre um mesmo assunto. Uma lição
de como praticar filosofia (na essência da palavra) sem as
babaquices odiosas, cheias de passionalidade e causa, disfarçadas de
racionalismo que acabam nos levando para a filodoxia.
Quem dera ter mais tempo
para mergulhos mais profundos nestes caminhos que se abrem na viagem
pelo universo das Letras. Com “L” maiúsculo mesmo. Antigamente,
quando era criança o suficiente para saber de tudo, dispensei muitas
leituras por puro preconceito. Hoje, tenho que correr atrás destes
conhecimentos. Destas fontes. Ainda que siga discordando delas.
Foi o que aconteceu –
por exemplo – com Stendhal. Conheci-o tardiamente (Mas nunca é
tarde!). O mesmo se deu com o pensamento sobre o utilitarismo e a
liberdade de Stuart Mill. Erros frutos de uma pueril certeza. Por
sorte, a gente cresce o suficiente para descobrir que não sabe de
tudo. Para entender o quanto é óbvia a sentença atribuída a
Sócrates; é profunda e verdadeira: só sei que nada sei. Para
entender o que de fato significa maiêutica e que, não é por acaso,
se compara a um parto. Na dor e na luz. Nas fases da gestação e na
beleza do nascimento.
Por esta razão, livros
sempre foram sagrados para mim. Sempre os admirei profundamente.
Sempre reverenciei escritores e procuro exercitar a humildade de
ouvir. É preciso silêncio para detectar o que vale realmente a pena
em meio a tanta gritaria. Uma tarefa que tem a ver com humildade. É
preciso silêncio até o silêncio ser preciso. Lembro de uma
expressão criada pelo escritor Mia Couto: “o afinador de
silêncios”.
Não lembro o título do
romance de Couto em que este personagem aparece. Mais uma bela
história sobre a ponte entre o mundo e nós. Uma ponte formatada por
experiências, leituras, reflexões, silêncios, links...e por aí
vai! O que exponho e discuto aqui tem total correlação com a
necessidade de abandonarmos o preconceito diante do diferente para
então formarmos – de maneira humilde, mas pautados pela busca de
conhecimento e da verdade – nossos conceitos.
Uma sociedade que
transversaliza demais os seus valores em nome de tudo e todos,
afogada na superficialidade, na gritaria e no “estardalhaço
opinativo” antes de conhecer; uma sociedade da eterna
espetacularização, ainda não saiu da adolescência. É o tal do
imaturo que sabe de tudo. Com este não há o que discutir. Afinal,
ele sabe de tudo por saber tão pouco. Quem sabe de tudo, sempre sabe
muito pouco.
Há ainda entre estes
“senhores das certezas” os que se arrogam intelectuais. Como
diria o músico Lobão, a galera que vive batendo punheta de pau
mole. É por aí...masturbação intelectual dos que falam para si ou
para o seu grupo. Ou falam de forma obscurantista o suficiente para
serem “inteligentes” diante de qualquer um que não tenha
condições suficientes para desmascará-los. Gente muito supimpa e
sempre interessada em acabar com os males da humanidade por meio da
verborragia. Velho ditado: de boas intenções o inferno está cheio.
Creio que o inferno – neste caso – nem precisa ser outro plano.
“Hey mãe, por mais que
a gente cresça há sempre alguma coisa que a gente não consegue
entender!”, já diria o músico Humberto Gessinger. Lembro de
sempre cantarolar este trecho da música quando estava resolvendo os
problemas de Física na escola (risos)! Lembrei disso ao ler a
recente biografia de Stephen Hawking, quando ele falava sobre
enxergar (encontrar!) uma teoria que abrace o todo.
Leiam meus amigos, leiam!
Para saber que precisam sempre saber mais e o quanto se sabe pouco.
Deixem essa história de “saber tudo” para quem de fato domina
esta técnica ao não saber de nada. Ao não enxergar – e/ou
construir – os links.
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