quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aperto de mão, perto do milagre


Não sei se é impressão minha, mas tenho sentido o mundo cada vez mais veloz. O cotidiano cada vez mais uma máquina de devorar sonhos. O tempo - enquanto invenção mecânica objetiva dos homens a ponto de ser medido nos ponteiros - nos apresenta o desafio de correspondermos a esta perspectiva do mundo pós-moderno, pós-isso-ou-aquilo, pós-qualquer-coisa...
Planos? Bem, o que mais tenho encontrado é gente que tem enchido a mochila com os planos traçados pelos outros; com dificuldade de rasgar mapas. Alunos, que diante da beleza do conhecimento, só assumem como perspectiva o Enem; profissionais que ambicionam os melhores salários; gente que enxerga no rito de passagem o objetivo final sem entender o prazer da viagem. 
Planos? Os cantores de um hit só já andam com biografia na praça: o livro, a música, a camiseta...todos na lista dos 10 mais. Dá para entender a metáfora!? Vou tentar ser mais direto: inteligência à deriva; GPS na mão. 
Planos? A galera que por medo de se encontrar dentro da solidão se entope de prazeres artificiais. Com pouco a pensar evitam essenciais crises existenciais. Pensar dói. É maiêutica, que é sinônimo de parto natural. Estranho plano pós-moderno: abdicar de si mesmo, da autenticidade, em nome da ciranda destes tempos velozes. De um lado a corrida frenética pelas perspectivas impostas pela vida social. Do outro, confortavelmente anestesiado no padrão desta mesma sociedade de consumo. Nem sei se me faço entender, mas assim como digo, assim repito: aqui é só um papo de quinta de mais um maluco no pedaço!
E se eu tenho planos? Tenho, claro! Os mais objetivos são iguais aos de todo mundo: crescimento profissional, ser bom pai, bom esposo, enfim...vai na lista, os semelhantes também. No campo da subjetividade, não quero ser melhor que ninguém. Não odeio ninguém. Juro! Mas, sempre quero ser melhor do que eu mesmo e isto inclui desligar o GPS e enfrentar a turbulência das essenciais crises existenciais. Inimigas tão amigas. Quem vai entender se eu aqui colocar que são estas crises que me levam a beira do precipício e que são elas que me fazem não pular. 
Pessoas temem a solidão? Eu também, mas ela ajuda no auto-conhecimento. Talvez o lance seja achar a medida certa da dose e assim diferenciar de quando é remédio para escaparmos dessa velocidade, e de quando é simplesmente veneno, nos leva ao desespero, ao achar que somos os únicos malucos no pedaço. Por falar nisso, li uma vez em algum lugar: que a tristeza extremada pode ser uma forma de egoísmo. Acabo de perceber que pode fazer sentido. 
Planos? Evitar a zona de conforto, não virar cover de si mesmo em meio ao cotidiano, saber que muita coisa que aparenta ser normal e natural pode ser encarada como absurdo, como ter que pagar plano de saúde, como ter que pagar por água potável, enfim...como achar que arte (o produto intelectual mais belo da humanidade) tem que ser sempre pirata...absurdos da normalidade. Planos? Ter tempo para enxergar tudo isto. 
Planos? Se um dia lançar um livro ter a capacidade de me dedicar a cada dedicatória como se só existisse eu e aquele leitor! Planos? Acordar sempre com a certeza de que os dias são sim diferentes...no mais: os planos são piadas diante do milagre de estarmos vivos! É, vai ver é isso. Mas, um belo plano é justamemte se esforçar para não perder a capacidade de enxergar tais milagres. Viu? Acabou de acontecer um agora...do nada, eu e você - caro leitor - demos as mãos sabe-se lá de qual lugar. Você sabe-se lá onde está; eu sabe-se lá onde estou.
Espero que quando soltarmos as mãos um do outro este aperto tenha valido a pena. Que seja um bom milagre! :)

4 comentários:

  1. Arretado, velho, parabéns!

    Mas, de duas uma: ou você escreveu isso lá no passado, ou lá no futuro, porque isso não é coisa de gente de hoje em dia.

    Saudações,

    Pablo de Carvalho.

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez parabéns Luis Vilar!

    Seu texto me fez viajar... para onde não sei!
    Talvez para dentro de mim mesmo. Talvez para o futuro ou para o passado. O que sei é que a viagem foi muito boa! Abraço e continue nos dando o prazer da boa leitura!

    ResponderExcluir
  3. Valeu pela visita e pelos comentários, meus amigos. Milagre e ceticismo podem andar juntos, eu acho. Se estou certo ou não...bem, deixa a vida seguir...:) Abraços!

    ResponderExcluir