quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Faz sentido? Ele é obrigatório?


Estou lendo uma biografia de Albert Einstein. A impressão que se tem é que o personagem é uma fonte inesgotável, seja levando-se em conta as informações ligadas à ciência ou aquelas que envolvem a sua personalidade. Seja - inclusive - levando-se em considerações algumas contradições enaltecidas pelo biógrafo. 

Pois bem, mas não é sobre exatamente isto que quero falar. Mas, o assunto nasceu de dentro da biografia. Um fato que me chamou a atenção: quando Einstein faleceu e seu corpo foi encaminhado para a necropsia, o médico responsável - sem a autorização da família - furtou o cérebro do cientista. O objetivo? Saber o que diferenciava Einstein dos demais mortais. O que tinha de tão especial em seu pensamento; em sua genialidade!

Espantou-me por conta da impressionante busca por resposta que motiva o ser humano a indagações, atos, planos, teorias surpreendentes. O ceticismo da ciência pelo próprio ceticismo, desprendido de moralidade, idealismos, conceitos e até mesmo - em alguns casos - da própria resposta que talvez busque e se acabe encontrando novas respostas.

O que poderia haver de diferente no cérebro de Einstein? Talvez um monte de coisa; talvez não. Fica para quem quiser pesquisar sobre o assunto. O fato é que lá - no cérebro morto - não estava respostas para o que se esperava. Isto não abre portas para nenhum tipo de misticismo, religiosidade. De forma alguma. Abre espaço apenas para mostrar o quão é intrigante a existência e ainda tão distante de ser revelar em seus porquês. 

Tão enormemente bela, tão ausente de sentido e ao mesmo tempo - a depender da fé - qualquer sentido se encaixa nela. A cena da necropsia de Einstein me fez viajar pelo existencialismo de Sartre. Buscar reflexões sobre uma possibilidade de essência que precede a existência, determinando aquela inteligência ali, naquele momento da humanidade, um desenho perfeito, uma equação com resposta pré-programada. Já pensou se quando se abrisse o cérebro se encontrasse exatamente a etiqueta “made in...”!?

Inevitável não pensar em Freud também. Pensar onde o nosso eu se esconde, aquilo que nos diferencia uns dos outros em meio ao orgânico. Será só o eu e suas circunstâncias impulsionando a matéria e suas complexidades a formulação de nossos pensamentos? Ainda pensar: ao que o acaso se destina? Ao que se destina o acaso? Destino? Acaso? Qual é bússola? Há bússola? Há mapa? Qual será desde sempre? Qual foi inventado e repassado, repassado, repassado, ao ponto de ninguém mais pensar em sua autoria...

E por aí vai. É possível numa hora dessas passear pelo Gene Egoísta de Richard Dawkins. Visitar Jonh C. Lennox e suas brilhantes reflexões sobre o cristianismo. Reflexões que se encaixam nas lacunas que cismam encontrar na leitura do darwinismo. Ou ainda falar do arquiteto do universo ao relojoeiro cego. Passear por tantas respostas e não encontrar respostas? É, é possível também. Milagre da existência. 

Lembra de uma entrevista de Dawkins - sem entrar no mérito do que ele pensa - em que ele falou que o cosmos ainda estava a espera de seu Darwin. Se ele certo estiver, daí se vê o tamanho da lacuna. E o que somos nós? Pontinhos invisíveis, imperceptíveis e só de passagem por dentro de um milagre belo que é a existência. E é muita gente querendo explicar tudo sem nem se dá conta do milagre. 

É a segunda vez que uso a palavra milagre aqui. Peço apenas para que não seja dada a conotação religiosa para dela. Corro o risco de não ser entendido pelo que vou dizer agora, mas ouso dizer: eu não preciso de deuses para acreditar na existência de milagres. Eu não vejo a necessidade de explicações complexas para a beleza. A ausência de sentido é simples; assim como a presença de um sentido também. 

A questão é a busca por evidências sobra os lados: ter sentido o não! Os milagres e a maravilha da existência segue aí do mesmo jeito. Os valores e os princípios que trago comigo também. 

O que não quer dizer também que tais milagres não precisem ser compreendidos, observados e contemplados. Claro. Mas, que não esqueçamos de suas grandiosidade diante das necropsias destes. Às vezes, contaminados pelo que queremos encontrar, inventamos respostas por não saber traduzir evidências. É quando começamos  a dar nós em explicações para chegar a tais respostas. 

Eis nossas tarefas de filósofos. Todos somos um pouco. Eu vejo beleza nessas indagações. Posso estar ficando maluco. Se assim acha o leitor, ele tem toda a razão. E assim o texto chega ao fim sem conclusão alguma. Tire agora as suas conclusões (risos)!

Notas de rodapé

1) Sou fã de Charles Darwin, não nego. O Origem das Espécies é um livro que me deixou muito intrigado durante muito tempo.

  1. Lembrei - enquanto escrevia -  de William de Occam agora e da sua fiel navalha. Vale a pena ser conhecido. A noção do princípio lógico de Occam que aponta para que a resposta simples geralmente seja a mais correta. Quem quiser saber mais sobre o cara, é só procurar. 

  1. O lobo da estepe - confesso! - de Hermann Hesse também pode ser encontrado nestas entrelinhas

4) Se o texto não fizer sentido algum, não se surpreenda. O louco aqui sou eu! Pode estar  certo disto!

2 comentários:

  1. Velho, arretadíssimo! Você simplificou a complexidade - jornalista é bicho danado. Parabéns!
    E, realmente, haver matéria em vez de nada é milagre, sob qualquer ângulo.

    Abração,

    Pablo.

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  2. Valeu amigo, Pablo! Mas quem dera ter simplificado...risos! Abraços, meu caro!

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