sexta-feira, 21 de setembro de 2012

As entrelinhas de um guardanapo


Eu tenho a mania de trabalhar solitariamente em cafeterias da cidade. Depois de apurada uma matéria, hora de procurar a xícara de café mais próxima e começar a dar vida a um texto. Em meio a este processo, eu rabisco guardanapos...o texto do jornal vai ganhando vida na tela do Mac; já outros textos vão ganhando vida em guardanapos.

Acho que os melhores planos do mundo nasceram em rabiscos de guardanapos. Sensação legal de subversão contra a majoritária corrente tecnológica. Coisa de maluco, como se estivéssemos fazendo planos para um novo mundo em uma caverna. 

Sempre penso que de um daqueles guardanapos pode sair a faísca para um grande livro que um dia eu vou lançar...bobagem, bobagem, bobagem! Os grandes livros nunca se fizeram. Mas, os guardanapos riscados possuem uma função importante. Às vezes de recarga no momento low battery. Hora de até um até logo no wi-fi; fechar-se em si mesmo. Vasculhar o que anda escondido. O que o escuro ilumina quando vão embora os holofotes do mundo. 

Aquela hora em que temos que ser metafóricos, pois chega de “literalmentes”. Há momentos em que o jardim ser só um jardim é “chato pra caralho” e a gente quer inventar umas fadinhas por ali. Sei, lá...versos em guardanapo para “desliteralizar” o mundo. Sempre me utilizei de ironias e metáforas, minha maior frustração é ter que explicá-las. E quase sempre estou fazendo isto. 

Mas, de volta aos guardanapos: eles abrem porta para uma sensação de liberdade. Quem me acompanha no Instagram deve observar que por vezes posto fotos de alguns destes pequenos pedaços de papéis rabiscados. Chegará o dia em que - em uma cafeteria - eu pagarei mais caro pelo guardanapo do que pelo café. “O café pode sair de graça senhor, como cortesia. Já o guardanapo, o senhor poderia passar por ali e deixar as córneas”.

Vivo esperando levar uma bronca dos garçons, do gerente, do dono do estabelecimento. Mas, os tempos de Procon me salvam. O consumidor tem sempre razão; ainda que a razão possa estar do lado de gente sem noção (às vezes). Duvida? Basta ter um bom marqueteiro e desprezar o mundo não-literal que nasce a partir dos...guardanapos...hehehe (essa metáfora foi longe; se você não entender a culpa é minha. Sou ruim demais com as palavras. As literais principalmente).

Mas, não se preocupem. Este tipo de texto invade guardanapos. Nunca, nunca, nunca jornais. Nos guardanapos qualquer palavra vira variação sobre um mesmo tema. Nos jornais, qualquer palavra é o mito da novidade, quando na verdade é mais do mesmo. 

Alguns destes rabiscos viram postagens no Facebook. Outros, no twitter. Outros, fotografia do Instagram (como já dito), outros pequenos bolinhos que vão parar no bolso da calça e são completamente estraçalhados quando esta vai para a máquina de lavar. Caraca, destruição de um universo paralelo contido no guardanapo? Pois é! 

Alguma vez um amigo me perguntou: por que tu não riscas os guardanapos que tu tens em casa? Ficar em casa mesmo riscando guardanapo e tomando café. Ter o trabalho de ir a uma cafeteria pra isto. No meu caso, meu amigo, seria literal demais. Os guardanapos da minha casa são comprados com a finalidade de serem...guardanapos. Aí, fica sem graça demais. Eu gosto da subversão, oh yeah!!!! 


Fica um escrito em guardanapo:

Nem fudendo
(Luis Vilar)

Xicará de café
Manter a fé
Venha o que vier...

Evitar zona de conforto
Evitar parar antes de morto
Sabe-se lá qual será o porto

Qual será o cais?
Qual dia de paz?
Qual caos ou tempestade...
...presos a esta tal de liberdade?

A vida não vai parar
Para você se recuperar
Lá fora, o sol vai nascendo
O dia segue acontecendo
Desistir, então? Nem fudeeeeeeendo!

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