Não
lembro em qual texto li pela primeira vez a expressão “cansaço emocional”.
Lembro apenas da sensação quando li. Pensei de imediato: é isto! Exatamente
isto!
A
expressão traduz momentos em que você se sente abismado pelo óbvio ser colocado
de lado em função de subverter a lógica por outros interesses. Não se trata da
divergência ideológica necessária, fundamental para o debate e para a
construção do conhecimento.
Trata-se
da letal desonestidade intelectual que tenta “calar” a ideia oposta como se o outro
fosse um inimigo declarado simplesmente por pensar diferente de você. Trata-se
de evocar – desonestamente! – para as próprias ideias o “símbolo” máximo de
“bem supremo” e num maniqueísmo absurdo passar com um trator por cima do
adversário utilizando-se de adjetivos, comparações idiotas, gracejos, enfim...
Criam
até o clubinho do ódio mortal! “Fulano escreveu um texto? Nem me interessa lê.
Eu o odeio, mesmo que ele nunca tenha falado de ódio a ninguém e só tenha
pregado justamente o contrário”. Vai ficando difícil sustentar a democracia com
tais posições. Eu acredito – profundamente e de coração! – que muita gente que
pensa diferente de mim quer o bem comum tanto quanto eu.
As
divergência se fazem pelas ideias de como construir o caminho e não pelo objetivo
final. Por esta razão, sempre me coloquei de coração aberto nas discussões.
Afinal, diante de alguém honesto intelectualmente você pode acabar acordando
para o fato de que o errado pode ser você. De coração, nunca descartei esta
possibilidade, porque diante das vezes em que mudei de ideia, nunca tive
vergonha de mudar.
Por
esta razão, sempre avaliei as minhas crenças e as que me são postas (por mais
contrárias que sejam às minhas) pelo prisma de uma lógica. Comparando com tudo
que já li, já vivenciei. Enfim. São momentos em que – mesmo dotado de um
ceticismo profundo – eu cito para mim mesmo Santo Agostinho: “prefiro os que me
criticam, pois me consertam; ao que me adulam, pois me corrompem”. Desde que a
crítica seja fundamentada e honesta; e não adjetivações pueris para denigrir
apenas. A tradução de Agostinho pode não ser exatamente esta, mas estou sendo
extremamente fiel ao que quer dizer a citação.
Porém,
hoje em dia, eu me deparo com discussões, em que sou atacado pelo que eu não
disse. Incrível! Eu releio tudo que eu escrevo e repito para mim mesmo: eu não
disse isto! Releio novamente, e eis que novamente me pego afirmando para mim
mesmo: sequer é possível confundir o que eu disse. Mas, sigo acreditando na boa
fé das pessoas e repito tudo que disse de uma outra maneira. Uma busca pelo
discurso mais didático possível.
Um
amigo sempre me diz assim: “não adianta. Alguns sempre vão ler o que você não
escreveu para se defenderem daquilo que gostariam que estivesse escrito. Assim,
vira estratégia: deturpam o teu discurso para que você passe a se explicar pelo
que não disse e acabe esquecendo de argumentar”. Pois bem, eis que começo a
usar esta explicação. Será que acabamos com os bons debates no campo das
ideias? Aqueles de coração aberto em que nos levávamos a aprender mais.
Em
que não buscávamos ser melhores do que ninguém, mas sim melhores do que nós
mesmos. Em que nos enriquecíamos. Tudo virou conquista e ocupação de território
em função de uma causa. O objetivo posto na carta do jogo War? Eu ainda prefiro
acreditar que não.
Conversei
sobre este cansaço emocional com a amiga Candice Almeida, que também vive a
expor suas reflexões de forma extremamente honesta. E efetivamente sempre vem o
lance de pensar no que ainda vale ou não a pena...os últimos dois textos que
fiz aqui, fui de uma agressividade que não costumo ter. Mas, precisava
escancarar a porta para que a desonestidade com que estavam atingindo alguns fosse
revelada.
Mas,
não sou um estrategistas em debates. Não tenho táticas – como diria
Schopenhauer – para “vencer” um debate sem ter razão. A partir do momento em
que entramos em um diálogo que prima pelo aprendizado com a intenção de
ganharmos um troféu por sermos o mais esperto, o mais inteligente, o que vai
desnudar a verdade, o que vai revelar o que está por traz das cortinas, já somos
derrotados; e saímos dele assim, por mais aplausos que tenhamos a receber.
Não
é o que quero para mim. Não é o que quero quando resolvi abraçar a filosofia e
o jornalismo. Não é o meu interesse quando me debruço sobre textos. Sou um
ignorante em eternas buscas. Passei por muitos livros. Passei por muitos
debates e por muitas experiências, como todo e qualquer ser humano. Todos me
levaram a uma conclusão: preciso aprender mais, preciso saber mais, pois ainda
é vasta a minha cegueira apesar de possuir algumas crenças bem fundamentadas na
lógica com que enxergo o mundo. E seguir com elas!
Estaria
eu com a verdade? Longe disso. Apenas, percebo que os querem revelar, também
podem ser os mesmos que queiram iludir. Com vestes franciscanas, fazem questão
de cantar por aí: “onde houver luz, que eu leve as trevas. Senhor, fazei que eu
procure mais enganar do que ser enganado...”. Para isto, possuem o discurso
fácil, o discurso caloroso, o discurso apaixonado e as táticas de guerrilhas
elevadas ao supremo ato da aniquilação do adversário.
Na
história recente – infelizmente! – podemos perceber que muitas vezes isto leva
à aniquilação física, com um cenário que justifica a morte em nome da causa.
Que justifica a opressão em nome da liberdade; que justifica os erros em nome
de um futuro, de futuras gerações. É apenas isto que combato.
Afinal,
sempre enxergo como um pleonasmo a expressão “liberdade individual”. Toda
liberdade só existe e está garantida se houver respeito ao ser e a sua própria
liberdade. É isto que tem acontecido ultimamente. Subvertem a lógica em nome
das necessidades de uma causa (seja ela qual for) e aí quem pensa diferente
vira inimigo, vira adversário. Quando na verdade, quem pensa diferente é quem
mais pode nos ajudar a crescer, desde que sejamos profundamente honestos uns
com os outros, que tenhamos de coração a vontade de ajudar e sermos ajudados
por meio do conhecimento e da troca deste mesmo conhecimento.
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