terça-feira, 19 de março de 2013

Quando o jornalismo é disfarce...


O que Padre Antônio Vieira tem a ensinar para a imprensa? Bem, que ser jornalista é um bom disfarce para tudo. Mas não falo aqui do jornalista em essência - aquele que estuda, lê, investiga, escreve, responde para sua própria consciência, rompe as amarras tecno-bobas do texto técnico em nome da verdade (pois relativismo em exagero é coisa de bocó que tem dificuldade de assumir responsabilidades).

Aqui falo do jornalista-disfarce que sendo peão no jogo de interesses, se finge de dono da pena na cena das aparências. O senhor que aluga opinião como se fosse um imóvel por temporada. “Venha, minha cabeça está vaga. Mande as frases tortas que com o disfarce de jornalista, eu vou limar, suar, torcer dando perfeição a mentira de tal forma para que ela se assemelhe a alguma verdade nos corações turistas”. 

Isto quando o senhor dono do imóvel tem o mínimo apreço pela Flor do Lácio. 

Quando não, vai de qualquer jeito ao espaço para que dele se deleitem petralhas, esquerdopatas, tucanalhas, dentre outros. 

Há ainda os que vendem a mentira com a polidez da imparcialidade. Desonestos intelectuais; desonestos com seus leitores. Ora, que tenham coragem da exposição pública, de colocar a ideia a ser combatida. Que venham para o bom combate. Mas, a estes qualquer mínima fagulha de luz incomoda. A obscuridade é o padrão para que possam vender o peixe podre como se manjar dos deuses fosse. Dos deuses deles, dos deuses que levantam o cálice e dizem: “toma e bebe, este é o cargo comissionado que derramo, para que outros sangrem. O elo de nossa suja e invisível aliança”.

Assim, o jornalista vira disfarce e esquece a essência do que deveria significar esta palavra. Porém, são os disfarçados que evocam para si a coragem de lutar pelo BEM supremo e de falar de IMPARCIALIDADE quando são atingidos pela verdade. Esta danadinha que teima em aparecer para confirmar - de uma hora para outra - quando menos se espera, que o tempo é o senhor da razão. Para espanto, o senhor da razão não é o senhor deles. 

Comecei este texto citando Padre Vieira, não é? Eu não esqueci. Indaguei - de forma retórica - o que Padre Vieira teria a ensinar para a imprensa tantos séculos depois, não é mesmo? Pois bem, ele ensina sem querer; pois revela a alma (não no sentido cristão, mas no sentido da subjetividade) por trás dos disfarces. 

Assim, ensina a separar jornalistas e jornalistas. Acreditem, quando o mar se abre com o bater do cajado da verdade no chão, o que separará as bandas não serão diplomas e cursos, mas leituras e caráter.

O que diz Vieira? Encontra-se no Sermão do Bom Ladrão. Assim fala o padre: “Seronato está sempre ocupado com duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só”. Não são poucos os Seronatos com canetas e bloquinhos. Não são poucos, os Seronatos esquerdopatas, direitopatas, tucanalhas e petralhas, ou até mesmo a espera do “ismo” que pague mais. 

Quem são eles, Padre Antônio Vieira? Se vivo fosse, tenho certeza que o religioso responderia assim: “são escravos do aluguel que eles mesmos atribuem à pena. São os grandes moralistas para a vida pública, para venderem aos seus senhores o papel de críticos severos dos deslizes alheios. Lá vão eles passando a sacolinha; Lá vão eles sussurrando: ‘é para criar bandidos ou santos? bandidos ou santos? quem dá mais’; Lá vão eles palestrar em universidades; Lá vão eles em defesa de uma única causa: roubar sozinhos ainda que necessitem do bando para a camuflagem. 

Grandes jornalistas, grandes, grandes homens. Grandes, não se comparam aos pequenos. São grandes, são geniais. Tão grandes que são sapatos para qualquer pé; chutam em qualquer direção. Basta que o time pague bem e que do outro lado não tenha goleiro. 

PS: este texto tem por base uma reflexão feita pelo blogueiro Reinaldo Azevedo sobre o papel do jornalista. 

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