quinta-feira, 9 de maio de 2013

Da atividade de quem quer a verdade...


Sempre acreditei que ter o que falar é posterior ao ato de muito ouvir, ler, analisar...enfim! Por isso, há temas com os quais não me envolvo. Não por não ter opinião; opinião todo mundo tem sobre tudo! Não por covardia, mas simplesmente pela necessidade de precisar conhecer melhor antes de tomar posição.

Quando – por exemplo – no jornalismo, é necessário fazer uma matéria sobre uma proposta de emenda constitucional (PEC), sempre procuro fazer com que o primeiro passo seja ler a tal emenda (além da própria Constituição) e depois confrontar o texto com o que é dito sobre ele. Não raro ligo para colegas advogados com um único intuito: busca de orientação, opiniões divergentes e mais leituras.

Assim, vale para outros assuntos. O “inbox” do meu facebook é recheado de diálogos “chatos para caralho” dos mais variados temas, com colegas estudiosos em suas áreas. Vão do Direito às religiões. É uma prática minha. As conversas arquivadas, por vezes, são relidas com livros sobre o assunto ao lado. Madrugadas em claro. Sempre assim quando me interesso por um tema.

Pode ser um defeito meu! Não quero ser senhor da verdade (até porque acho que este senhor é sempre o maior dos imbecis); mas acredito que atividade do jornalista tem que ter este garimpo. Nunca embarcar no senso-comum, no mais óbvio. Se o senso-comum e o mais óbvio forem o real, a pesquisa e o estudo – naturalmente! – darão razão a quem se tem.

Cito, por exemplo, o romance de Umberto Eco – O nome da Rosa! – como um belo exemplo do que aqui falo. Quem o leu deve lembrar da figura do inquisitor de Toledo, Bernard Gui. Ele moldou – para muita gente – a visão da inquisição na Idade Média. No romance, o personagem histórico traz inclinações ao sadismo, com seu capuz é mais um monge inclinado ao autoritarismo.

O livro de Umberto Eco é uma reflexão fantástica sobre o conceito de Deus e o que se faz em nome dele ou do conceito em si. Mas, a construção romanceada de Bernard Gui foi injusta. Para saber disto, ir à fundo em outros textos históricos, como os de Roman Konik, que não é tão famoso quanto Eco. Konik faz um levantamento histórico sobre o monge e mostra que ao longo de sua vida, Gui jugou 913 pessoas.

Destas, apenas 42 foram entregues aos tribunais como perigosos rebeldes. Destes, muitos – pela forma como Gui conduzia os processos – foram absolvidos. Os números mostram que o tirano sádico tinha uma inclinação pelo réu. E aqui falo apenas de Gui, não da Inquisição como um todo. O exemplo é ele! Porém, melhor que o estudo histórico é o romance. É a polêmica! Melhor que o texto, muitas vezes, é a melhor manchete. Resistir a esta tentação. Não morder a maçã. Enfim...nem sempre é fácil. Aliás, nunca é!

Sobretudo quando nossos egos estão imersos no processo. Sempre estarão. Quem não gosta do reconhecimento de sua produção intelectual? Eu mesmo me sinto honrado quando convidado para palestras, debates, e vejo a possibilidade de ensinar e aprender dentro de um processo que gosto de chamar de bom combate. Quem – neste mergulho – não tem suas paixões e seus preconceitos. Ora, como fã de Eco, vocês não imaginam o quanto foi difícil reconhecer a razão de Konik. Como ateu então? Obriga-me a fugir de um maniqueísmo que seria mais fácil na defesa do que eu penso. Nada do que digo aqui é fácil para mim. É uma tarefa árdua. Árdua como a maiêutica socrática.

Árduo como perder um domingo ensolarado na necessidade de rever os conceitos de Kant dentro do próprio Kant após algumas críticas propostas por Miguel Reale. Seria injusto crer em Reale de primeira só porque ele é Reale. Eis outra alusão para exemplificar o que aqui falo.

E assim vai desde as opiniões envolvendo o novo livro do Lobão (que foi odiado antes de ser lido em função das manchetes que desagradaram alas progressistas) até outros assuntos que dominam a mídia e os especialistas em textos curtos e na polêmica da semana. Lembrou-me o compositor Humberto Gessinger: “todo mundo tá relendo o que nunca foi lido; todo mundo tá comprando os mais vendidos”.

Pois é, qualquer nota, qualquer coisa que se mova é um alvo...e os atiradores de plantão não leram sequer o manual do rifle! Se fosse um jogo de futebol, era só mandar o juiz para casa que do pescoço para baixo tudo vira canela. A bola? A bola que se foda...

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