Caminhar
na vida é acumular. Não deixa de ser. É trazer experiências, reflexões e saber
superar os próprios karmas (em um sentido metafórico) da existência e de suas
circunstâncias. Perdas & Ganhos, poderia dizer alguns. No pain, no gain: um
outro ditado. Eu diria que até as perdas revelam ganhos a depender do ponto de
vista. Por quantas vezes, o fim do mundo era só uma placa na autoestrada com a
inscrição “bem-vindo ao mundo novo”.
Nem
as lembranças que acumulamos são fiéis ao fato que as geraram. As interpretações
que damos, os filtros que trabalham tais fotografias fazem com que cores
especiais sejam ressaltadas. Nossas lembranças nos levam a aprendizados
fantásticos. Muitas vezes, um mesmo fato nos empurra para várias lembranças,
para cores diferenciadas, para interpretações múltiplas, para vários
aprendizados. E lá vamos nós acumular.
Somos
passageiros e bagagens. Por mais que estejamos parados. Caminhamos e
acumulamos, muitas vezes sem domínio sobre o que devemos levar e o que temos o
poder de deixar para trás. Sou capaz de apostar que o passado que enxergamos
hoje, não é de fato o passado que aconteceu. Sou capaz de apostar que a busca
por um sentido interfere de maneira decisiva na compreensão do passado, na
forma como enxergá-lo, na dimensão que damos a alguns fatos que na visão de um
terceiro poderia ser tido até como algo imperceptível a olho nu.
Por
sinal, os maiores acontecimentos – afinal, a morada dos “deuses e demônios” são
os detalhes! – estão invisíveis ao olho nu. Mas, saltam aos nossos olhos de
forma impressionante. Dão peso, volume, densidade à bagagem e nos ajudam a enxergar sentido no caminho.
Olhar para trás é interligar pontos. Um porquê, um como, um motivo, uma razão,
uma missão, enfim...chegamos até aqui!
Lembra-me
uma trecho de uma canção do cantor e compositor Humberto Gessinger: “se eu
soubesse antes o que sei agora, erraria tudo exatamente igual”. Frase simples, mas genial. Aliás, como toda a
simplicidade que é cirurgicamente precisa. Às vezes, o complexo é só alegoria e
a simplicidade água pura que mata a sede e nada mais!
Com
o tempo, com o acumulo dos dias a gente vai aprendendo – se tivermos o
interesse de aprender – a separar o joio do trigo nessa área tão empestada de
intelectuais que acumulam milhas ao devorarem livros, mas nunca se destinam a
uma viagem por conta própria, se é que vocês me entendem. Eu posso estar completamente errado, mas não
deixo acumular milhas no cartão de crédito...
E
nessa autoestrada (tomando como gancho o texto anterior) se tem uma coisa que
me orgulho de trazer na “bagagem” é o milagre de desfrutar plenamente desta
indefinível relação entre os humanos que o dicionário na ausência do poder de
definir melhor chama de amizade. Eis o milagre mais belo com o qual pude me
deparar. Não tenho muitos amigos, mas trago a certeza de que tenho os melhores.
Orgulho-me
deles. São os que ajudam no caminho, são os que ajudam a olhar o
retrovisor. Acho que Voltaire fala
melhor que eu sobre este assunto. Diz ele que a amizade é contrato tácito entre
duas pessoas sensíveis e virtuosas. Lembrando que os sensíveis podem ser
pessoas de bem e mesmo assim não conhecerem a amizade, daí a necessidade de
usar todo este acumulo de experiência, toda a bagagem no sentido de fortalecer
as virtudes, o bem, nos tornarmos melhor do que nós mesmos.
Pois
são estas que nos diferenciarão dos demais ao longo da jornada. Nesta
autoestrada – bem lembra Voltaire – que os malvados caminham com cúmplices, os
festeiros com companheiros de farra, os ambiciosos só terão sócios, os políticos
vão com seus partidários, os vagabundos com os lucros de seus contatos, os
príncipes com os puxa-sacos e os que enxergam o virtuoso da vida caminharam
sempre com amigos.
Eis
o que de mais belo trago, eis o que de mais belo procuro oferecer a quem comigo
caminha, caminhou e caminhará. Por isto, apesar de eventuais derrotas, as
perdas me revelaram o que de melhor eu sempre tive: amigos!
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