quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Das esquinas, ex-quinas, neoquinas...enfim!


É preciso encarar a estrada com muita fé em si mesmo. Se você não a tiver, ninguém a terá por você. Simples assim! Não importa se o céu está azul, ou se a tempestade chegou mais cedo, todos os dias nascem com seus obstáculos e com seus milagres. Lançamos nossos planos - que por vezes são piadas para possíveis deuses - mas será sempre um milagre por vez. E falo a palavra milagre sem qualquer conotação mística ou religiosa. Até porque sou cético. E como cético, creio profundamente na existência do milagre. 

Parece paradoxal? Talvez não seja! Afinal, o acaso pode ser um grande gestor de milagres ao “administrar” o caos. A fé em nós mesmos nos impulsiona sempre em busca de sermos melhores. Acredito muito nisso. Por esta razão, sempre adotei o mantra: “que eu seja melhor hoje do que fui ontem. Não quero ser melhor do que ninguém, mas sempre melhor que eu mesmo”. 

Repito pra caramba esta frase - mentalmente! - no decorrer do dia. É uma oração sem ter um deus como interlocutor, mas tentando vasculhar em mim mesmo o que mais eu tenho a oferecer. No final das contas é o cultivar da fé em mim mesmo que vai me possibilitar também ajudar outro, a estender a mão. Vai sempre deixar bem clara a necessidade da humildade, pois tornar-se melhor é estar sempre de mente e coração abertos para aprender, mas sem abandonar a lógica e a coerência com os princípios que nos norteiam.

Espero estar me fazendo entender até aqui. Afinal, sempre são confusos esses textos sobre autoconhecimento, pois como explicar enquanto se autoconhece? São sempre textos que vão fluindo, vão nascendo e quando menos se espera você conseguiu escrever mais do que sabe, mais do que pensou que sabia, e ainda assim bem menos do que ainda tem para aprender. 

Mas, enfim...costumo ter alguns rituais bem particulares nessa busca por aprender sobre si mesmo. Andar sozinho e sem rumo por algumas ruas também é um deles. Daí - em alguns poemas - utilizar muito a palavra “esquina” como metáfora para inesperado. As metáforas são precisas justamente por não serem literais. Colocam com exatidão o que o denotativo jamais conseguirá explicar. Andar pelas ruas - literalmente falando - sem um lugar certo para chegar, sempre me apresentou novos caminhos (conotativo) ainda que as ruas sejam sempre as mesmas. 

Quantas vezes as esquinas próximas do meu prédio foram outras esquinas simplesmente porque uma das músicas do iPod revelou algo por meio de um verso. Quantas vezes não parei para anotar uma nova frase para um futuro texto. Acho que foi Heráclito que disse: “um homem não se banha no mesmo rio duas vezes”. É bem isto. E é um milagre. Cada dia com seus milagres. 

Lembro - há muito tempo - que um amigo me passou um MP3 com uma música para a qual ele queria que eu fizesse uma letra. Passei 30 dias escutando o som. Sempre de um lado para o outro. Sentava, tentava rabiscar uma letra e nada. Putz! Aquele exercício me deixava irritado. Gostei tanto do som inventado por ele, que eu queria que ali estivesse uma letra minha. Era questão de honra. Consegui escrever vários textos pensando naquela sonoridade, mas nenhum se encaixava. 

Depois de 15 dias, liguei para o amigo. “Cara, sem chance. Não consigo escrever. Pede para outra pessoa, sinto muito!”. Ele entendeu e assim foi feito. O MP3 acabou com uma letra dele mesmo. Meses depois, listei todas as MP3 do computador e comecei a escutar de forma aleatória enquanto terminava uma reportagem para um dos jornais que trabalhei. A quinta canção que tocou foi o som feito por meu amigo. Eis que me espantei, eu consegui pensar em toda a letra na hora. 

Liguei para ele contando o fato, mas já tinha ido. Ele nem mais tinha a banda que iria usar a canção. Mas, o exemplo ilustra bem o que quero falar aqui. O mesmo som e um novo som ao mesmo tempo. Uma velha esquina tão nova que me levou para dentro de mim, para saber o que eu não sabia que sabia. Eis um pequeno trecho do que foi escrito há tempos (é a parte que lembro. O resto se perdeu):


Pode ser com o céu azul
Ou nas tempestades que ainda vem
Ainda há tanto invisível a olho nu
Que todo dia é um milagre por vez
Quem sabe até...
...mais uma esquina que desfaz o que até hoje sei!

Em solidão...
...quantas vezes o silêncio não foi uma canção
...quantas vezes o espelho de um futuro que não se tem
...quantas vezes pareceu com uma tradução
...quantas vezes tão óbvio dentro de si mesmo; escondido tão bem
Esquinas inéditas nos caminhos pelos quais sempre passei...

Acho que os versos explicam mais do que todo texto que fiz. Palavras demais acabam atrapalhando o que só o silêncio pode dizer. Então, hoje é curtinho assim mesmo. Valeu pela companhia de sempre! 

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