segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O medo e a autoestrada...vamos lá!


Tenho um medo terrível de autoestradas. Nunca gostei de dirigir e o pavor de longos trechos com uma velocidade acima da “minha” média – que é mínima - me assusta demais. Mas, sempre acreditei que devemos enfrentar nossos limites, mostrando que somos maiores que nossos medos. Isto faz com que eu enxergue o medo – que por vezes é o outro lado da moeda quando uma das faces é a coragem – como algo sadio.

Um alerta sobre o qual podemos racionalizar e assim superar. O medo não pode paralisar. Ouvi essa frase – assim de forma simples! – em uma canção dos Engenheiros do Hawaii. O último CD da banda até o presente momento. A canção chama-se Quebra-Cabeça. O verso completo é o seguinte:

Pode estar no ponto
Ponto de interrogação
Pode ser encontro
Ou separação
Pode correr risco
Arriscado sempre é
Só não pode o medo te paralisar

É um sentimento semelhante com o qual me deparo quando pego a autoestrada. Sempre um desafio que eu mesmo estou me impondo. Sempre um medo que estou vencendo e não me paralisando. E sempre, entre o ponto de partida e o ponto de chegada, um ponto de interrogação.

Por mais que o caminho seja o mesmo, nunca é a mesma viagem. Metaforicamente e literalmente também. Os pontos de passagem, os imprevistos possíveis em uma autoestrada, o posto de combustível onde vamos parar, o que escolher para comer, as conversas que terei – com quem me acompanha – até chegar ao local esperado. Tudo isso vai auxiliando a desafiar o medo e a não paralisar. Quando menos se espera a viagem finalizou e chegou satisfeito comigo mesmo ao fim da jornada.

Para mim é a autoestrada. Pode ser uma bobagem para o leitor que se depara com este texto neste momento. Mas, para você, caro leitor, tal desafio pode não ser a “highway”, mas algo bem simples mesmo. Tenho um amigo – por exemplo – que este desafio consiste em ir a locais com grandes multidões. “Toda vez que estou aqui estou vencendo a mim mesmo e esta é uma vitória diante de algo tão simples, mas que só eu tenho a dimensão dela”, disse-me uma vez. Concordo com ele integralmente.

Acredito que todo ser vivente deve ter seus “medos imbecis” que proporcionam “vitórias interiores”. Bem, ou talvez eu espero que todo mundo tenha para que eu não soe tão maluco assim. Né?

Só para situar o leitor do ridículo dado que para mim tem tamanha importância: nos últimos 30 dias peguei a autoestrada 4 vezes e tenho programado – junto com a família – viagens cada vez mais longe. Quem saiba não vá ao Sul do país de carro? Eu voltaria um outro eu. Podem estar certo disso. Voltaria o cara que escreveria na sua história um feito de heroísmo tamanho que me credenciaria a estar no próximo ônibus espacial com destino a Marte (e no volante da nave!).

Por enquanto, a maior distância: 300 e poucos quilômetros a uma velocidade média de 90 km/h. Este é o dado concreto. Vamos aos reais: coração com sensação plena de que tudo é possível, corpo com a disposição de pular todo tipo de barreiras, alma com a compreensão de que o medo não pode paralisar mesmo,  certeza de que não se pode abandonar a poesia na dificuldade de concluir o primeiro verso...e por aí vai. Dados reais? Sim! Mais reais que estes para mim é impossível. Você deve saber bem disso nos seus pequenos medos.

Sabe aquele meu amigo? Um dia ele chegou todo orgulhoso de si: cara, eu fui a um show – em algum lugar do mundo que eu não lembro – que tinha mais de 100 mil pessoas. Eu nem gostava da banda, mas sai de lá gostando mais de mim. Juro, é assim que desço do carro depois de 300 km de autoestrada. Valeu a pena cada curva que detestei fazer.

Estrada
(Luis Vilar)

Estrada em frente
Sempre enfrente
Não há outra solução aqui

Cada curva
Pequenas lutas
Entre descansos até um fim

Próxima parada
Próximo movimento
Um mundo conhecido pode desabar

Quem sabe eu mesmo
Já não seja mais o mesmo
Quando for a hora de voltar

Quando o pé pisar a estrada
O coração pisará fundo em outro lugar
Quando a autoestrada já não significa nada
Serei mais triste apesar de tudo aqui me desafiar

Estrada em frente
Sempre enfrente
Não há outro jeito de continuar

Cada curva
A inteligência contra a força bruta
Entre descansos; mas nunca parar

Quando o pé pisar a estrada
O coração pisará fundo em outro lugar...

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