sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dos argumentos e da vigarice intelectual


 Nenhum argumento pode servir de sustentação à intolerância às ideias que não são consenso. Por mais que tais ideias sejam sem sustentação por parte de quem as articulas. Tais pensamentos devem ser rebatidos com argumentos. Estes por si só mostrarão a fragilidade da tese por meio do contraditório.

É o que manda o espírito democrático, pautado por princípios fundamentados na honestidade intelectual. Eu creio nisto! Não suporto vigarice intelectual seja com quem for. Seja para com aqueles que concordam e possuem pensamentos semelhantes aos meus; seja para com aqueles com os quais possuo divergências sadias.

Aliás, para os com quem divirjo – quando com honestidade intelectual – vai minha mais profunda admiração por aceitarem o debate e ainda assim se manterem afáveis, generosos e humildes para com o aprender e o passar conhecimento. Agora, nunca levarei flores a quem deseja sambar no meu túmulo.

Digo isto, por sempre ter em minha mente uma frase de Santo Agostinho (como gostaria de ter sido o autor desta): “prefiro os que me criticam, pois me corrigem, aos que me adulam, pois me corrompem”.

Neste sentido, minha ojeriza à intolerância se faz por reconhecer que a democracia garante o direito da livre manifestação de todas as ideias, desde as imbecilidades às mais inteligentes. Afinal, é muito fácil lutar pela garantia dos direitos das santas. Difícil é reconhecer que tais garantias também são dadas às putas, desde que não firam ou coloquem em risco às liberdades individuais de ninguém; ou o Estado Democrático de Direito.

O que me preocupa hoje em muitos discursos – sobretudo os “politicamente correto” e de “protestos progressistas” – é a tendência (quase um fetiche) de se aniquilar o oponente. E o pior, quem vive a fazer tal discurso se sente ofendido quando não é retribuído com flores e com aplausos. Acha que pode agredir por ter a suposta razão apoiada em um consenso.

O pior da unanimidade – muitas vezes! – não é a tendência à burrice, mas achar que o unânime é o suficiente para legitimar a violência em nome de causas. Já vimos o nascer neste espírito na humanidade. Ele sempre se encarnou em totalitarismos. Aí reside o perigo! Se a razão está contigo, caro amigo, abandone os adjetivos e as palavras de ordem. Construa democraticamente o contraditório e a defesa com argumentos. Por que o aniquilamento do oponente, muitas vezes físico se assim encontrarem brecha?

Ou pior; a pior das vigarices intelectuais: se defender do que não foi dito (ou escrito) para passar a impressão, aos preguiçosos de plantão que não vão às fontes - aos originais - que o oponente disse aquilo que eles tanto desejavam que tivesse sido dito.

É por isto que nestes tempos a democracia adoece, como bem colocou Reinaldo Azevedo em seu texto de hoje. Faz com que se transversalize e relativize princípios, valores, honestidade intelectual, ética (como conduta) em nome de algo que é julgado superior pelos “progressistas de plantão e os politicamente corretos”: uma CAUSA.

O perigo é a CAUSA se tornar o único alicerce sobre o qual se sustentará o Estado, sendo este até mesmo maior que a Democracia. Assim, nascerão as exceções que permitirão ou não certas ideias a depender do juiz da CAUSA. E os senhores que hoje são os MAIS INTELIGENTES por revelarem o CAMINHO do BEM a um povo... nada mais serão do que os CAVALEIROS INEXISTENTES de Ítalo Calvino. Sumirão suas consciências na hora certa para cumprirem a função de tentáculos do aparelho posto e nada mais.

Pensem com carinho neste desenho de futuro...

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