Nenhum argumento pode servir de sustentação à
intolerância às ideias que não são consenso. Por mais que tais ideias sejam sem
sustentação por parte de quem as articulas. Tais pensamentos devem ser
rebatidos com argumentos. Estes por si só mostrarão a fragilidade da tese por
meio do contraditório.
É o que manda o espírito democrático, pautado por
princípios fundamentados na honestidade intelectual. Eu creio nisto! Não
suporto vigarice intelectual seja com quem for. Seja para com aqueles que
concordam e possuem pensamentos semelhantes aos meus; seja para com aqueles com
os quais possuo divergências sadias.
Aliás, para os com quem divirjo – quando com
honestidade intelectual – vai minha mais profunda admiração por aceitarem o
debate e ainda assim se manterem afáveis, generosos e humildes para com o
aprender e o passar conhecimento. Agora, nunca levarei flores a quem deseja
sambar no meu túmulo.
Digo isto, por sempre ter em minha mente uma frase de
Santo Agostinho (como gostaria de ter sido o autor desta): “prefiro os que me
criticam, pois me corrigem, aos que me adulam, pois me corrompem”.
Neste sentido, minha ojeriza à intolerância se faz por
reconhecer que a democracia garante o direito da livre manifestação de todas as
ideias, desde as imbecilidades às mais inteligentes. Afinal, é muito fácil
lutar pela garantia dos direitos das santas. Difícil é reconhecer que tais
garantias também são dadas às putas, desde que não firam ou coloquem em risco
às liberdades individuais de ninguém; ou o Estado Democrático de Direito.
O que me preocupa hoje em muitos discursos – sobretudo
os “politicamente correto” e de “protestos progressistas” – é a tendência
(quase um fetiche) de se aniquilar o oponente. E o pior, quem vive a fazer tal
discurso se sente ofendido quando não é retribuído com flores e com aplausos.
Acha que pode agredir por ter a suposta razão apoiada em um consenso.
O pior da unanimidade – muitas vezes! – não é a
tendência à burrice, mas achar que o unânime é o suficiente para legitimar a
violência em nome de causas. Já vimos o nascer neste espírito na humanidade.
Ele sempre se encarnou em totalitarismos. Aí reside o perigo! Se a razão está
contigo, caro amigo, abandone os adjetivos e as palavras de ordem. Construa
democraticamente o contraditório e a defesa com argumentos. Por que o
aniquilamento do oponente, muitas vezes físico se assim encontrarem brecha?
Ou pior; a pior das vigarices intelectuais: se
defender do que não foi dito (ou escrito) para passar a impressão, aos
preguiçosos de plantão que não vão às fontes - aos originais - que o oponente
disse aquilo que eles tanto desejavam que tivesse sido dito.
É por isto que nestes tempos a democracia adoece, como
bem colocou Reinaldo Azevedo em seu texto de hoje. Faz com que se
transversalize e relativize princípios, valores, honestidade intelectual, ética
(como conduta) em nome de algo que é julgado superior pelos “progressistas de
plantão e os politicamente corretos”: uma CAUSA.
O perigo é a CAUSA se tornar o único alicerce sobre o
qual se sustentará o Estado, sendo este até mesmo maior que a Democracia.
Assim, nascerão as exceções que permitirão ou não certas ideias a depender do
juiz da CAUSA. E os senhores que hoje são os MAIS INTELIGENTES por revelarem o
CAMINHO do BEM a um povo... nada mais serão do que os CAVALEIROS INEXISTENTES
de Ítalo Calvino. Sumirão suas consciências na hora certa para cumprirem a
função de tentáculos do aparelho posto e nada mais.
Pensem com carinho neste desenho de futuro...
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