segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Dos livros e da arrogância...


Cresce nas redes sociais – para o meu espanto – cada vez mais o número de pessoas que opinam sem sequer conhecer detalhes (ou até mesmo a superficialidade) do que estão opinando. É a turma que vai na onda, impulsionada por falas de “artistas” e de outros tão superficiais quanto.

E os temas vão – como diria um amigo – “da construção de navios ao acasalamento dos mosquitos”. Não bastasse a superficialidade, é um tipo de gente que “rosna” diante da exposição do conhecimento aprofundando.

Se o texto ultrapassa uma quantidade “X” de caracteres, ou cita fontes, ou aconselha leituras para o aprofundamento da questão, já se fez o suficiente  para se ganhar o rótulo de pedante, arrogante, facista, ou algo que valha. Sequer o significado dos adjetivos – que consta em qualquer simples dicionário – é respeitado.

Joga-se o contexto fora e para afastar a luz do conhecimento ou o argumento; qualquer adjetivo é muito bem-vindo. Assim, eles rosnam. Não abrem um milímetro do círculo edificado pela cegueira para não correrem o risco de estarem errados. Afinal, se o mundo destas criaturas desabar, o que será delas?

Lembram as sombras e os enfurnados na caverna de Platão. Não aguçam a inteligência o suficiente. Com isto, jamais perceberão o quanto são adestrados. Já disse aqui: se há algo que quanto menos você usar, menos você sentirá falta, este algo é a inteligência.

O círculo de intelectuais adorados por esta gente são aqueles que sempre vão beber na mesma fonte. Assim, eles são capazes de falar de socialismo e comunismo sem ler Karl Marx. São capazes de estraçalhar as opiniões de um escritor sem nunca ter lido seus livros. O contrário também são capazes de fazer. São revolucionários! Tão revolucionários que começam a casa pelo teto e dispensam alicerce.

Quando confrontados, possuem suas táticas de guerrilha: diante da incapacidade de entender o argumento de quem debate com eles, inventam algo que você não disse para se defenderem do que gostariam que você tivesse dito. Aliás, estas são as principais armas da vigarice intelectual: adjetivar, inventar, propagar a invenção, se defender da invenção, tornando o outro o mal que precisa ser combatido. Diante deste cenário, obviamente que estas criaturas dóceis acabam ficando com o monopólio das virtudes.

Como não acredito em conhecimento sem esforço, vejo nas fontes, nos livros, nos documentos, na lógica, na racionalidade, na busca pela verdade, a forma mais correta de empreender na filosofia. É desnecessário afirmar que a leitura – de clássicos, inclusive! – para isto é fundamental. Por isso aplaudi tantas vezes Narloch, Laurentino Gomes e outros pela iniciativa de revisitar e escrever sobre nossa história de maneira tão embasada. Sem os fetichismos ideológicos. Eles deram aula a muitos acadêmicos de meia-tigela.

Por isto que eu tenho uma paixão por livros. Não nego. Prefiro passar pelo arrogante falando das minhas leituras e do que conclui com base nelas, a ter que aderir ao mundo do “heroico apedeutismo”, que vem sendo motivo de orgulho de muitos revolucionários nas redes sociais. 

Que se conservem espalhados os meus livros pela casa. Sempre sobre os mais variados assuntos. No dia em que eu quiser opinar sobre a construção de navios, lerei muito sobre o assunto antes. Incluindo o que há de mais moderno e mais clássico. O mesmo vai ocorrer quando precisar falar sobre o acasalamento dos mosquitos.

Escrevo citando livros, pensamentos pré-existentes em relação ao meu, mostrando fontes que me respaldam e indicando as que se divergem do meu pensamento, por acreditar que a base para qualquer discussão vem do estudo sério. Repito: “não acredito em aprendizado sem esforço”.

Defendo isso – sobretudo no jornalismo – e admiro quem estuda em suas áreas, quem perde noites de sono longe da sociedade do espetáculo – tão bem descrita em excelente livro de Vargas Llosa, que leva esse título – para tentar chegar a um pensamento. Chegar a um pensamento no sentido socrático mesmo, no sentido da maiêutica. Sem filodoxias.

Sempre elogiei pessoas que possuem essa preocupação. Como os estudos de Boaventura de Sousa Santos (com quem tenho divergências de pensamento) e sua honestidade intelectual. São frutos das pesquisas dele.

Quem opta por este caminho – que não é fácil, pois requer tempo, sacrifício e paciência – verá que vai ter opiniões menos vazias, verá o mundo de forma melhor, mais liberta de chavões ideológicos, de premissas mal colocadas, de contextos construídos propositadamente. Será mais rico de um sentimento que impulsiona a busca pela verdade sem querer impor. Isso sim é humildade.

Humildade diante do conhecimento. Quem quer algo diferente disto, não quer humildade. Quer serventia! Arrogância – na verdade – é querer impor um ponto de vista sem nada que o sustente, baseando-se apenas na cegueira alheia e no próprio achismo. Se em terra de cego, quem tem olho é rei. Em terra de leitores, é possível o olhar crítico para se apontar que o rei está completamente nu!

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