segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ao ditador, com carinho...



 Mais uma entre tantas picaretagens:
Mito da imparcialidade
Um mundo melhor depois do combate
Pela causa até a morte
Soldados à luta, generais ao resort

Esteja preso em nome da liberdade
Nosso bem maior não pode perder a fé
Como tantas outras picaretagens
Escritas e revistas para tudo que vier

A revolução segue pela margem
Deixa a tua alma, veste a bandeira, boné e camisa
Venha que a gente precisa
Na fumaça do charuto tantas ideias esquisitas

A gente vai pela cidade
Talvez quem sabe a gente consiga
Um outro mundo ao fim de tarde
Um ditador que recite poemas sobre a vida
Alguém que nos ame tão de verdade
Que até nos mate se a gente tentar se convencer
Que há outro caminho em outras partes...
Que aposte na velha forma de viver...

Explosão e salvação

Explosão e salvação

“Quando o mundo está a um passo de explodir/O que ainda te salva?”. Dois pequenos versos pobres rabiscados em um guardanapo entre um café e outro em algum local da cidade. Não se encaixam em qualquer tipo de texto que tenha rascunhado ultimamente, mas refletem a pressa e pressão com que as informações se sucedem ultimamente, eliminando o foco do que de fato interessa; roubando-nos o foco para o que de fato parece se construir: edifício alto, pilares fracos!

Eis a metáfora que tenho usado muito no cotidiano: “edifício alto, pilares fracos”. Nosso consumo frenético de informações, a busca por saber tudo que está a nossa volta: da última tragédia ao mico da mais nova celebridade; do mais novo refrão à última bandeira para salvar o mundo...e dá para carregar tudo em um pen-drive. Muita informação, mas o que de fato nos interessa? A eterna superficialidade que nos remete ao mais do mesmo todos os dias.

Como se não bastasse, tudo tem que ser entretenimento. Na sala de aula, conhecimento com entretenimento; na filosofia, o filósofo high-tech celebridade para dar entrevista sem poder aprofundar demais, mas cheio de frases de efeito; nos jornais, informação com todo tipo de atrativo e quanto menos letra melhor; na literatura, o culto pelo que é ralo e a fuga do denso...por aí vai. Dá impressão de que os assuntos e as reflexões andam descartáveis. Tomara que seja só a impressão de um dinossauro de gravata que frequenta cafeterias de uma cidade, com certo saudosismo de discutir ideias, de falar menos sobre pessoas. Vai ver é isto.

É isso...

Quando o mundo está prestes a explodir
O que ainda te salva?
Versos de um poema que não cabem nas letras que andam por aí
O que ainda te salva?
Um café no fim da tarde com livro ainda a resistir
O tempo dos descartáveis...

Quando o mundo está prestes a explodir
O que ainda te salva?
Amores em grande escala que estatísticas não podem medir
O que ainda te salva?
Um vinho no fim da noite com sonhos ainda a resistir
A ausência de romantismos e palavras...

Quando o mundo está prestes a explodir
O que ainda te salva?
Uma ligação inesperada de quem te faz verdadeiramente sorrir
Nesta selva de tantas gargalhadas
O desejo de dias melhores que ainda estarão por vir
Entre edifícios altos e pilares fracos que constroem por aí

O que ainda te salva?

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Pequenas notas mentais para o rodapé do silêncio

O que faz aquele cara escondido especializado em odiar?
Quantas frases, quantos mitos, quantos especialistas ainda vão desabar?
Quantas moedas pelo teu pudor dentro de um ritual?
Quantas frases de efeito fazem o mais novo intelectual?

Nas sombras de um sol que queima lá fora...
Na tua caverna, qual será o banquete da hora?
Quem inventa as tuas novas histórias?
Um enredo tão subliminar quanto superficial...

Então que tu venhas, que se quiser é agora...
As entrelinhas de um novo instante neste hospício ou hospital
Corações e mentes presas em eterno retorno
A mesma tecla em escala industrial...

Quais as influências estéticas do novo livro que ninguém leu?
Qual a nova polêmica: quem mostrou a bunda quem se escondeu?
Por que quem promete fragrância de rosas não nos cheira nada bem?
Os pensamentos que o vento espalha o que dizem também?

Quem perde a guerra não conta a história
Não terá glórias e a verdade é de quem vence e vem
Quem define a distância a que estamos do horizonte

É quem fala das possibilidades das pontes para outro lugar

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Entre a plataforma e conteúdo...a geração superficial de Nicholas Carr

Vejo Nicholas Carr como um excelente pensador e analista do ciberespaço no qual fomos jogados e – obviamente – em seus efeitos. Quando o assunto é internet, acredito que ele deu uma grande contribuição para que pudéssemos pensar nossa relação com o consumo de informações “fast-food” que este ambiente propicia, além das próprias redes sociais. Para quem tiver interesse de ampliar o debate, indico o livro de Carr com o título “A Geração Superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros”. É uma excelente obra!

Surpreendeu-me que ele fosse citado por Mario Vargas Llosa em uma obra chamada A Civilização do Espetáculo. O artigo de Llosa me levou à releitura de Carr. Mais surpreso ainda fiquei pelo fato do pensamento de Llosa ser semelhante a um artigo que tinha escrito certa vez sobre esta tal “geração superficial”. Claro, Llosa é bem melhor que eu em sua reflexão. Mas, vou tentar aqui reproduzir o que tinha falado certa vez e que tem bastante semelhança com o que é dito pelo escritor peruano.

Carr coloca uma coisa óbvia que tem sido esquecida. Mais que consumir em uma nova plataforma alguns conteúdos que chegam bem mais rápido e fácil, precisamos também avaliar de forma crítica a interferência que esta plataforma possui sobre o conteúdo, para não nos restringirmos somente a ela, achando que ali está a completude de nossa formação intelectual em função da quantidade exacerbada de informação.

É preciso pensar de que maneira a plataforma modifica o conteúdo, sobretudo em uma civilização que tende ao espetáculo e que traveste toda informação com entretenimento; ditando, inclusive, prioridades conforme o nível de entretenimento. Uma plataforma que resume o complexo no facilmente absorvível para que tenhamos menos esforço, para que percamos menos tempo, para que passemos a consumir mais informação, mas sempre dentro do espetáculo audiovisual que as redes possuem a nos ofertar.

Claro que há o lado bom desta evolução que vivenciamos. Nunca tivemos acesso a tantas ideias, a tantos compartilhamentos, a tantas reflexões, enfim...isto é inegavelmente maravilhoso. Porém, a instantaneidade e agilidade neste ciberespaço tem nos transformado em péssimos leitores. Aquela atividade da leitura prazerosa, da solidão com o livro, da reflexão sem pressa e sem pressão - que nos levava a uma viagem enriquecedora - tem desaparecido. Sabemos muito sobre tudo, mas de maneira tão superficial. Isto se observa na qualidade de opiniões que são lançadas por aí. Nas contradições evidentes que dificilmente são detectadas por quem escuta, por também ser furto do mesmo ambiente. A promoção da superficialidade. A quantidade superou a qualidade.

Informar virou um ato pautado pela espetacularização, onde todo mundo é poeta, atleta, intelectual, humorista, se é tudo e especialista em tudo. Uma especialização que pode cair diante do vento mais forte. Basta um sólido argumento.

Gostaria de esclarecer que sou um entusiasta das redes e do quanto elas contribuem para a informação, mobilização e democratização. Mas, me preocupa que este seja – sobretudo nos mais jovens – o único caminho de formação e informação intelectual. Tem sido assim. Falar do filósofo Aristóteles em sala de aula é despertar o interesse de jovens. Porém, sempre me perguntam onde podem encontrar de forma resumida o principal da obra.

Lembro-me de uma frase de Humberto Gessinger – o compositor gaúcho – quando canta: “o principal sempre fica fora do resumo”. É meio que por aí. Além da ideia de Aristóteles, há a estética de sua linguagem, o debate da formação da ideia, o processo na construção do argumento que ensina também a argumentar, que nos faz crescer e evoluir. O ambiente físico se sobrepõe neste sentido. Claro, vai nos cobrar mais tempo. Será mais denso e não tem os atrativos da espetacularização.

Nicholas Carr começou a estudar a internet neste viés de discussão que aqui travo quando percebeu que, após consumir tanta informação na rede, tinha se tornado um péssimo leitor. Indisciplinado, não conseguia manter a concentração e lia muito pouco. Não conseguia se ater a um livro por um período considerável de tempo, pois sua mente estava treinada para ser agitada. Quando a leitura era mais complexa, ele a rejeitava. Parecia um hercúleo esforço intelectual. Carr – antes de enveredar pelas redes – era um leitor voraz de bons livros.

Palavras dele: “perco a calma e o fio da meada, começo a pensar em outra coisa para fazer. Sinto-me como se estivesse sempre arrastando meu cérebro desconcentrado de volta para o texto. A leitura profunda que costumava vir naturalmente transformou-se em um esforço”.

Logo, não há plataforma que seja apenas um meio de veicular o conteúdo. Todas interferem de alguma forma. Há plataformas que – naturalmente – tendem muito mais a superficialidade em função da maneira como propõe o consumo. Outras, em função disto são mais densas e nos cobram maior tempo e reflexão. Entretanto, nos presenteiam com um mundo maravilhoso de descobertas, com a formação de valores, com maior senso-crítico, com cultura (no sentido mais belo da palavra).

Não abandonemos isto. Saibamos dosar o nosso tempo e as nossas fontes de informação. Que as futuras gerações possam ter o prazer de navegar por Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, de forma integral; que possam mergulhar na densidade de um Dom Quixote (ainda que em tempos pós-modernos todos saibam de quem se trata sem ter lido a obra); que tenham acesso a Ulysses de Joyce; ao Homem Revoltado de Albert Camus e a tantos outros essenciais para a inteligência dos debates que se travam de maneira superficial das redes.

Não consigo entender a valorização do “inculto” que assola o mundo de hoje. Não consigo entender a visão da filosofia como perda de tempo. Não consigo conceber jovens afastados da verdadeira literatura. Aquela com “L” maiúsculo que se faz sem a presença de vampiros de quinta categoria, magos e outras bobagens. A informação fast-food nos torna dispersos. Parece que enxergamos o principal por meio do resumo, mas este ficou do lado de fora. E assim a gente segue, odiando a intelectualidade, deblaterando sem sentido, com argumentos pífios, sem parar para pensar sobre os 140 caracteres que jogamos ao vento...


No mais, fica a dica: leiam Nicholas Carr.  

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O silêncio de ouro



“Aprendi o silêncio com os faladores, a tolerância com os intolerantes, a bondade com os maldosos e – por estranho que pareça – sou grato a esses professores”. A frase é de Khalil Gibran.

Ressalta o valor do silêncio. Há um tipo de silêncio que nos leva a uma solidão que na verdade é a estar em companhia de si mesmo. Este silêncio “é de ouro”. É fundamental! Nele, reverbera os faladores e suas falácias. Nele separamos o joio do trigo. Nele exercitamos a paciência.

Nele nos deparamos com um espelho...

...e – como diz o compositor Renato Russo – por vezes, ao nos depararmos com este espelho, observamos um mundo doente. Na companhia de nós mesmos – em silêncio & solidão – notamos a trave em nosso olho.

Como diria o escritor Alexandre Dumas, “para todos os males, há dois remédios: o tempo e o silêncio”. Eis outro escritor a expressar de forma sábia o poder do “silêncio de ouro”. Sim!, diante das feridas, não tema a dor. O que nos resta é enfrentar! Nada mais...o mais fará o tempo e o silêncio diante de nós...

Alguém diz – não lembro quem! – que o que faz a reputação do barqueiro são as tempestades e os imprevistos do mar. O silêncio pode ser um belo barco a nos conduzir pelas tempestades. Acredito nisto. Sobretudo em épocas de tanto culto ao barulho. Em épocas onde ninguém para. Todo mundo fala o tempo todo. Todo mundo grita; todo mundo tem razão!

Para quem duvida disto, fica o dito por Eckhart Tolle: “a verdadeira inteligência trabalha em silêncio. É no silêncio em que a criatividade e a solução de problemas se encontram”. Eu coloco aí – no rol destes problemas – muitas de nossas inquietações filosóficas. Até mesmo aquelas que são resolvidas ao fim da noite e que voltam em cores mais vivas nas manhãs seguintes.

Quando criei o Conversas de Quinta, de certa forma, também buscava neste espaço retirar o melhor do meu silêncio. É como produzo boa parte dos textos. Aprendi a escrever ou em total silêncio; ou com alguma música clássica no headphone. Uma forma de escapar do mundo dos barulhos. Uma forma de entrar em conexão de “100 megas” comigo mesmo.  

Foi em silêncio que deletei textos inteiros após escritos. É como diz Eduardo Galeano: “quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar”. Eu substituiria apenas o calar por deletar. Nunca publiquei nada aqui sem ter lido várias vezes.

É deste tipo de silêncio que aqui falo. Mas, existe outro tipo de silêncio? Sim! O praticado pelos covardes. Sobre este outro, muito pouco a dizer. Bem resumiu este outro tipo, o ex-presidente Abraham Lincoln, quando diz que “pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes”. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

As lições de O Zero e O Infinito



Esses caras muito bons, extremamente santos, sempre prontos para te abordar na esquina com os argumentos irrefutáveis de que você precisa acordar e aderir a luta por um mundo melhor, me preocupam.

Não que eu não queira um mundo melhor! Quero sim. Tento me pautar por isto no dia a dia. Pensar sempre no próximo e ser o mais justo possível. Os problemas são os caminhos tortuosos que visam sufocar a liberdade e abrir mão de determinadas garantias para se atingir um objetivo maior, um bem religioso (não no sentido místico da palavra, mas no de religação com uma causa maior que nós), um amanhã que para ser atingido precisamos abrir mão do hoje e que possivelmente não desfrutaremos.

O BEM SUPREMO que nos leva a aceitar TUDO na certeza de estamos caminhando, marchando, existindo, focados e acordados pela próxima geração. Somos o caminho rumo ao BEM e só eles possuem a chave, as respostas, a razão, enfim...o monopólio de virtudes elaborado para o catálogo da revolução.  Abordarão nossos esqueletos alienados na esquina. Mandarão na bucha: “e aí, tá com a gente, ou é mais um do MAL?”.

Tomado de assalto, muitos aderem à visão romântica alimentada pela subjetividade do desejo mais que natural por um mundo melhor. Logo em seguida, sufocada a subjetividade, outro sentimento impera. Você até pode discordar dentro do grupo. Mas, jamais externe isto. Lá fora é guerra! Defenda os seus, ame os seus. São eles que querem o mundo melhor. Os demais, mais inimigos.

Vão te transformar em gente mesquinha, tacanha, pequena, gente tão do mal, mais tão do mal que prefere manter a honestidade a ter que cometer crimes pela causa. Os bravos tão bem ilustrados por George Orwell em sua Revolução dos Bichos.  O sentimento tão bem questionado por Hermann Hesse em seu O Lobo da Estepe, ao vagar perdido entre tanto maniqueísmo.
Lembra-me Arthur Koestler em seu O Zero e O Infinito: “Pois o movimento não tinha escrúpulo; rolava inexoravelmente rumo à sua meta depositando os cadáveres dos afogados nas reentrâncias de seu curso. O curso tinha muitas curvas e reentrâncias; essa era a lei da sua existência. E quem não fosse capaz de acompanhar seu curso tortuoso era relegado à margem”.

São estas reentrâncias presentes em alguns movimentos por “um mundo melhor” que preocupa. São reentrâncias determinadas pelas lideranças que surgem, que erguem o cajado para dividir o mar no meio. São os que gritam: “vai comigo rumo à causa, ou ficará do lado do MAL”. Como camaleão, criam cores e justificativas para tudo. O IDEAL em si será sempre mantido puro como o norte.

Fala Koestler: “o Partido só reconhecia um crime: desviar-se do curso traçado. E só um castigo: a morte”. Em tempos modernos, a aniquilação do oponente por meio de estratégias desonestas intelectuais o suficiente para desmoralizá-lo. Um tipo de morte que não física, mas que não permite que ele dialogue. Ele tem que passar a se justificar sempre. Ele é lançado à fogueira. Todos os munidos dos ideais puros para cima do inimigo, já.

Por fim, com foco do BEM SUPREMO e do monopólio das verdades, proferiu certa vez o bispo Von Nieheim: “quando tem a existência ameaçada, a Igreja é dispensada dos mandamentos da moralidade. Visando a unidade, o emprego de todos os meios é santificado, até mesmo a astúcia, a traição, a violência, a simonia, a prisão e a morte. Pois toda ordem é em prol da comunidade, e o individuo deve ser sacrificado ao bem comum”. Substituam Igreja por qualquer grupo monopolizador de virtudes (de qualquer lado do tabuleiro) e não estranhe as semelhanças.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Sobre o reino da filodoxia...


Não gosto muito de rótulos. Acho-os perigosos. Delimitam qualquer possibilidade de entendimento melhor sobre o que uma pessoa quer dizer, pensa, busca expor...enfim. Quando não, abre espaço para que – açodadamente – se julgue o livro pela capa.

Tenho mania de recorrer ao silêncio diante do que escuto. Pesquisar diante da dúvida, para só então fazer uso da palavra. Um respeito pelo outro e por mim mesmo. Pelo outro, por evitar a injustiça; por mim mesmo, por saber que o excesso de certezas molda o estúpido; que finca raízes onde o colocam e ali permanece para estar a serviço das verdades que professa.

Devemos assumir a responsabilidade com o nosso próprio EU! Não quero entregar de bandeja minha liberdade de reflexão, de pensamento, de escolhas...enfim, a garantia de nossas liberdades individuais. Penso eu que quem se vende, recebe sempre mais do que vale, por menos que receba.

Não é fácil tarefa. Requer muitas vezes divergir sem ser grosseiro. Ir no mérito de questões e não ir “para cima de pessoas” como um leão faminto pronto para aniquilar o oponente. Requer refletir sobre as sombras e buscar a saída da caverna; ao invés de maldizer a luz.

Thomaz Jefferson foi muito sábio: “se uma nação espera ser ignorante e livre ao mesmo tempo, espera ser algo que nunca existiu”. O mesmo vale para o indivíduo. Nunca consegui, por exemplo, ser “admirador” de um filósofo sem ir a fundo na leitura de sua obra. Nunca consegui, e aí falo por mim, arrotar conhecimento após o consumo de “orelhas de livros”.

Não estou defendendo o eruditismo com isto, estou apenas buscando uma reflexão sobre a estranha existência de tantos especialistas em tantas coisas. Os “profundos” pitaqueiros que se afogam na própria mediocridade.

Sempre estranho os “que sabem tudo” e direcionam tudo para uma mesma óptica. Possuem um funil por onde passam as interpretações que fazem da realidade. Percebam que este “funil” acaba por levar sempre a conclusões que estão a serviço de uma causa fundamentada em pensadores que muitas vezes sequer foram lidos pelo tal “especialista”.

No máximo, o tal “especialista” foi doutrinado em uma “forma de pensar” que faz de pensadores...os “mitos”. Acho uma pena; pois – aos poucos – vamos perdendo a essência de algo fundamental ao processo filosófico que engradece o ser humano: o debate. Vira e volta é preciso sim revisitar o que já disseram sobre Sócrates e o processo do conhecimento.  Resumindo na frase “só sei que nada sei”, nos empurra ao autoconhecimento e não a uma doutrina.

Que faz um doutrinador no curso de filosofia? Filodoxia! Que faz um obscurantista numa palestra? Proselitismo! Que faz um militante cego em uma rede social? Aniquilar o oponente e destilar ódio! E por aí vai...é de lembrar de Tomás de Aquino: não pode jamais do mal nascer o bem. E aqui é necessário levar o mal e o bem para além do maniqueísmo, mas para a reflexão sobre a genealogia do que é dito, feito, posto...no sentido de plantar e colher.

Logo, o que se planta na tentativa de se eliminar um dos lados do debate – seja ele qual for! – pode ser tudo, menos uma busca por colher democracia. Aliás, qualquer tentativa de imposição de conceitos enxergando a democracia como um produto que só possível por uma via, é esquecer que ela é um processo, com seus defeitos, com suas falhas, mas um processo aberto ao aperfeiçoamento por meio do debate e não de outra forma. Mas, andam querendo criar sinônimos para democracia que nada tem de democrático.