terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Sempre pensar em voz alta!


No dia em que meu pai faleceu lembro que rabisquei muitas poesias como forma de suportar a dor. Fiz um texto - inclusive - no Blog do Vilar, no site CadaMinuto. É uma relação que tenho: grandes dores, muitas escritas. E quase sempre sem me importar muito com a qualidade do texto, mas deixando fluir o que vem na mente. Um rio que pouco se sabe onde vai desaguar...No fundo, todo rio deságua no mesmo mar. Ou como diria um sertanejo como meu pai: por aqui qualquer caminho vai dar na venda. 

Quem mora em cidades interioranas sabe bem disso. Mas, o interessante é que na relação com a escrita tu sabes bem o que coloca para fora, mas nunca vai saber ao certo o que tu colocas para dentro do outro; aquele navega durante algum tempo dentro do teu texto. Nesta vida de lidar com as palavras aqui e acolá - por exemplo - nunca soube quantas pessoas magoei e quantas ajudei. Lembro de um escritor - me falha o nome dele agora - que falava das dores de viver pensando em voz alta. É a vida de quem escreve. Pensar em voz alta!

Lembro de um leitor meu, por exemplo, que quando me encontrou em um shopping e conversamos rapidamente, ao se despedir disse: “cara, quando te lia eu imagina você com outra voz”. O tom foi meio de decepção. Acho que esperava um cara mais eloquente e eu sou tímido pra caramba. Um outro - em uma palestra - ressaltou o fato de eu ter “apenas” - nas palavras dele! - 32 anos de idade. Hoje tenho 33 se for levar em conta o calendário que todos nós seguimos (risos). Estas colocações sempre me pareceram mágicas. Eu - sem saber - já fui tantos eus tantas vezes na vida de quem me lê. 

E aí, uma reflexão: por menor que seja o texto, todo cuidado: ele vai para alguém; como uma mensagem colocada dentro de uma garrafa que o náufrago joga ao mar. Já chequei a falar sobre isto aqui no Conversas de Quinta. Está em algum lugar do passado. Falei sobre garrafas e mensagens. Logo, passei a acreditar - piamente - que o maior sinal de respeito com um leitor é pensar na forma dizer, mas nunca no conteúdo. Este tem que ser preservado. Não se pode poupar o leitor do conteúdo. Tem que ser honesto com ele. O que não dá é para ser agressivo. 

Por que digo isso? Porque sempre estou me colocando na contramão na opinião sobre alguns temas. Tipo: não sou o cara de esquerda pronto para defender todo tipo de Justiça Social em favor de uma entidade chamada povo que consiste sempre em ter voz por meio de uma minoria que chegou a poder por vias de partidos vermelhinhos! E olhe que este é só um exemplo. Aí, eu sinto, eu vejo, e lá vou eu escrever, meter minha caneta onde não sou chamado. 

E como disse lá no primeiro parágrafo, esse texto sempre deságua em vários lugares e sujeito a todo tipo de interpretação. Eis que as interpretações dadas muitas vezes geram conteúdos que eu jamais sonharia, mas nem nos melhores sonhos. Gosto delas. Mesmo quando erguem pontos de vista que jamais tinha parado para pensar diante do que eu mesmo escrevi. Por esta razão, as redes sociais - ao longo da minha profissão - se tornaram tão importantes. Viraram termômetros para que eu pudesse estudar o meu próprio texto, aprender aos poucos a ser mais preciso. Tenho conseguido isto com um certo êxito nos textos jornalísticos. 

Num outro sentido, também por meio destes estudos nasceu o Conversas de Quinta. Resumindo uma metáfora eu digo seguinte: o Conversas de Quinta é quando solto o nó da gravata, tiro os sapatos, estalo os dedos e deixo ir...e - consequentemente - volto a dialogar com a múltipla interpretação. Que me chega por impressões que não vem pelos comentários no próprio blog. Outro ponto interessante a ser analisado: as pessoas que lêem sentem a necessidade de falar comigo, pessoalmente, ou via chats sobre o que sentiram ao ler tais textos. Acho isso lindo! 

Numa dessas vezes, por exemplo, em meio a uma conversa sobre um texto daqui do Conversas de Quinta, mostrei um poema para um amigo que era o seguinte: 

Não saber o que falar...
...e ainda ter tanto o que dizer...
...ao te ver deixar a casa...
...ao te ver criar novas asas...
...e se impulsionar ao céu!

Não ter mais o que tentar...
...e precisar ter algo a fazer...
...que te faça ficar em casa...
...que te faça fechar as asas...
...e desistir de ir para o céu!

Mas, estamos sempre a postos para perder
Nunca estaremos preparados
Por mais que estejamos avisados
Por mais que o tempo nos ensine a sofrer

O amor é sempre inédito apesar das reprises que a gente vê
Como represar o rio violento estando deste lado
Se é lá do outro lado que deságua a certeza que vai nos vencer
E assim, eu perdi você...
...com um adeus que sempre deixa tanta coisa a dizer...
E assim, eu perdi você...
...com as dúvidas que me invadem sem saber se vou te rever

E ele me respondeu: “Cara, que belo poema de amor! A mulher que inspirou deve estar honrada”. E eu: “Cara, não é um poema de amor neste sentido. Fala da ausência de alguém que morre. Foi sobre meu pai e minha mãe, que já faleceram”.  Mas, logo depois disse: “mas encara pelo teu ângulo mesmo”. Ele então complementou: “é que pareceu tanto com a situação que vivenciei com uma garota!”. 

A onda de se ver no texto, né?! Viver pensando em voz alta. A vida do escritor. Aí olha só, esse amigo mandou o poema por email para a guria em questão. O poema foi o princípio de uma retomada de diálogo. Ela voltou pra ele. Essa história pude acompanhar; quantas não acompanhei e são tão interessantes quanto! Daí minha paixão pela escrita, sobretudo a sem amarras. Daí porque sempre vivo incentivando as pessoas a criarem seus blogs.  

Pois do mesmo jeito que minhas mensagens vão nas garrafas, chegam garrafas nesta ilha também. Daí ser imensamente grato a vocês leitores que permitem ao Conversas de Quinta, mesmo não sendo mais às quintas, continuar a existir. E por esta razão - para 2013 - o projeto de transformar este blog, junto com outros textos, em livro. Espero conseguir. 

2 comentários:

  1. Caríssimo Luis VILAR,
    fértil a sua mente voando entre IMAGENS, cada uma valendo mais que MIL palavras como reza a LENDA.

    Estéril e ÁVARO, prefiro escrever ao modo LACÔNICO oposto ao jeito PROLIXO de juristas chaves de CADEIA que abrem e fecham, tropeçando em ANACOLUTOS no TECLADO sem LÁPIS nem borracha ou papel borrado de CAFÉ derramado.

    [ANACOLUTO, ou frase quebrada]:= QUEBRA da estrutura sintática da FRASE pela inserção de um termo SOLTO ou pela mudança ABRUPTA d'uma construção SINTÁTICA.
    ... FIGURA comum na RETÓRICA clássica, como se começássemos uma frase e houvesse uma mudança de RUMO no pensamento através do desrespeito das REGRAS de concordância verbal ou da sintaxe.
    ... frequente na ORALIDADE, considerada recurso de ÊNFASE como em frases incompletas: ... "Não me digas que ..." ...
    ... USAM-na NUA e crua quem faz fluir a CONSCIÊNCIA, como James Joyce e tbém GUIMARÃES ROSA retratand'a fala coloquial típica dos moradores do SERTÃO.
    _ http://pt.wikipedia.org/wiki/Anacoluto

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  2. Grato pela visita, caro João! Obrigado pelo comentário

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