segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Voo solo!


Gosto da expressão “voo solo”. Já utilizei em alguns textos, poemas, enfim...me remete a sair na completa solidão de um céu aberto a todas as possibilidades. Traçar a rota nunca antes traçada e encontrar um sentido em pleno céu azul. Algo que só pode ser feito - de fato! - sozinho. É sozinho, deitado no grama, olhando para o céu que as nuvens tomam formas engraçadas. Cada uma que se pareça com o que a mente conseguir imaginar ou impor. 

O céu azul - em voo solo - vai ganhando sentido. Vamos compondo, entre experiências, aprendizagens; valores absorvidos, questionados, refutados, assimilados, devorados, mastigados e cuspidos...e, quando menos se espera, somos nós. E no voo solo, somos nós por inteiro, questionando tudo, sem pudores. Eu e as minhas circunstâncias; eu e o meu pior carrasco. 

O “voo solo” é essencial. Casa fechada, luzes apagadas, madrugada, ninguém ao lado. Asas abertas e vamos lá...rumo ao céu imaginário. No máximo, canetas e papéis. Registros quase que psicografados de uma alma que habita um corpo estranho. O momento posto em verso...o momento em que corpo e alma não se encaixam. Por vezes nesse “voo solo” não encontro semelhança entre o meu físico e o que carrego por dentro, seja pisquê, alma, ou que definição se queira dar...

De chinelos velhos, pijama e xícara de café ao lado...um espírito de 70 anos de idade em um corpo de 33. A alma na frente do corpo; o corpo lamentando e xingando a alma por ser ele a sentir os primeiros desgastes. Pois é! Acho que envelheci cedo demais. E ao mesmo tempo me tornei extremamente cético. Meus “voos solos” são o máximo de contato com uma suposta espiritualidade, mesmo assim sem qualquer pitada de conceito religioso nisso. 

Quando falo em espiritualidade, falo de mergulho na subjetividade. Da busca da genealogia das próprias crenças, dos próprios valores, como frisei lá no segundo parágrafo. Seria um saco repetir novamente. O retorno desses voos - por incrível que pareça! - é sempre marcado por extrema produção. Muitos poemas, muitos textos aleatórios - sejam para o Conversas de Quinta ou para o Blog do Vilar. É tarefa do escritor: ser contemplativo “minutos” antes da “explosão”. 

O engraçado é a forma como costumo trabalhar isto em fases. Ultimamente estas “explosões” vão ganhando forma numa mistura entre verso e prosa. O meu medo é que não tenha sentido para o leitor, porque para mim vai fazendo o total sentido, descobrir-me enquanto eu mesmo escrevo. Casar uma prosa com uma poesia que nasceram quase que simultaneamente. Variações sobre um mesmo tema. Acho até que já falei sobre a questão neste espaço. 


Voo solo

Quando o céu azul é a casa do pássaro
E o ninho é só um porto para descansar
Quando tudo é possível e não há caminho 
Nem qualquer sentido desenhado no ar

Quando tudo pode ser questionado
O que foi consumido e o que está para se consumar
Quando o sentido pode ser ilusório
Assim como tudo tem seu contraditório a nos visitar

O que a gente teima em querer encontrar
Que não está aqui, mas pode estar em qualquer lugar?

Quando o céu azul te chama a sair da ilha
E você perde a trilha observando as nuvens desenhar
Quando a alma quer sair correndo
Apesar do tempo andar perigoso para quem quer sonhar

Quando as asas se abrem a um novo pensamento
E já não tem mais como o coração voltar 
A ser tão pequeno e a bater longe deste sentimento
Que encontrou o céu aberto e quer te empurrar

O que a gente teima em querer encontrar
Que não está aqui, mas pode estar em qualquer lugar?

2 comentários:

  1. Alma ansiã, dona das vontades e de suas próprias verdades. Impele o desejo em nós, goela abaixo. Melhor engolir, sem respirar.

    Adorei a leitura!

    Jal Magalhães
    www.donna poesias.blogspot.com

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  2. Obrigado pela visita Jal Magalhães. Valeu mesmo. :) Grato pelo comentário.

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